domingo, 25 de janeiro de 2009

Impressões sobre a Venezuela

Estive no nosso vizinho ao norte entre os dias 29/12/2008 a 07/01/2009, muita gente me perguntou antes da viagem qual seria o sentido da mesma, já que outros destinos seriam mais atraentes para um turista brasileiro, porém antes de sermos turistas, eu e meu amigo Fábio somos geógrafos, portanto desde Humboldt (guardadas as devidas proporções) no século XIX em suas famosas viagens pela América do Sul, temos a curiosidade de conhecer outras realidades, de sentirmos o “cheiro dos lugares”, de conversar com as pessoas, ou seja, os geógrafos precisam de viagens assim como o peixe necessita de água.

O destino Venezuela foi decido sob a influencia de várias fatores que vão desde a vontade de conhecer mais um país latino americano ao fato de aproveitarmos as milhagens acumuladas da TAM, porém a principal motivação foi desejo de conhecer um pouco mais desse rincão do terceiro mundo que vêm ganhando destaque internacional desde o início dos anos 2000 devido a chegada ao poder do militar Hugo Chavez Frias com sua retórica forte e muitas vezes explosiva e a sua controvertida “revolução bolivariana”, portanto por uma mistura de curiosidade “geográfica” com simpatia ao “comandante” embarcamos rumo á Caracas.

Chegamos ao nosso destino numa manha de segunda feira e logo que embarcamos num táxi já percebemos pelo trajeto ao hotel, o que já imaginávamos, uma cidade de grande beleza, porém uma típica capital do terceiro mundo capitalista cheia de contrastes e com grande “déficit social” que poderia ser observado através do grande número de favelas presentes nos “morros”, ( algo bem parecido com o Rio de Janeiro), assim como, carros de ultima geração tipo “Cherokee, BMW, Mercedez, etc” trafegando pelas ruas num transito tão caótico que deixaria qualquer paulistano com saudades de sua terra natal.

Nos dias que se sucederam, é obvio que conversamos com as mais diferentes pessoas dos mais diferentes níveis desde camelos a famílias da classe média, passando pelas universidades de Mérida e Caracas a respeito do governo bolivariano, sendo muito evidente a polarização radical da sociedade entre aqueles que “amam” e aqueles que “odeiam”, havendo um “empate técnico” em nossas “entrevistas”.

Parece bastante evidente o fato de que não podemos tirar conclusões definitivas apenas com conversas, porém é bastante eloqüente que o “cheiro” e as “vozes” das “calles” representem um termômetro razoável do “estado geral das coisas”, por isso fazendo uma retrospectiva do que ouvimos cheguei a algumas conclusões parciais a respeito do processo vivido no nosso querido vizinho.

Em primeiro lugar me parece claro que a política externa do presidente Chavez possui “exageros” verbais, que podem afugentar alguns investimentos externos, porém o peso desse aspecto me parece ser levemente relativo, haja visto que o país que mais recebe os chamados IED”S no planeta está sob a batuta do partido comunista (China)

Porém, ainda na política externa, me parece bastante interessante o papel da Venezuela na OPEP, conseguindo fortalecer a organização que estava bastante debilitada até os anos de 1990, por interferência dos Estados Unidos, é bom lembrar que a mesma, apesar de ser um cartel, é uma das poucas organizações econômicas com predominância maciça de países do terceiro mundo.

Outro aspecto interessante observado é a tentativa de fortalecimento da unidade sul-americana, através de políticas comuns fortalecendo nosso sub-continente na esfera internacional, do ponto de vista econômico, a construção de infra-estruturas na escala continental seria muito interessante especialmente para o Brasil podendo representar um ciclo de grandes investimentos nessa época de crise mundial.

Em relação às questões internas o que podemos observar de positivo é o apoio maciço da população mais carente ao governo Chavez, em nossas “entrevistas” constatamos que muito provavelmente houve avanços nos setores essenciais como saúde e educação, a formação de cooperativas e o apoio ao chamado “circuito inferior” da economia presente nas grandes feiras de comércio popular das ruas de Caracas, chegamos até ouvir de um jovem na universidade de Caracas que “não tem emprego na Venezuela hoje quem não quer”.

Apesar que, e é importante isso ser ressaltado, o preço do petróleo já não é o mesmo que no início dos anos 2000, podendo ter interferência direta nesse processo, a ver.

Todavia, apesar das opiniões desencontradas, um fato é inquestionável, ninguém se perpetua no poder, através de consulta popular e eleições diretas (apesar da mídia afirmar o contrario), durante dez anos se não oferecer avanços à população mais carente, que na Venezuela, assim como no Brasil formam a maioria da população; Há tempo: Chavez possui 60% de apoio no referendo a ser realizado em fevereiro.

Em relação às críticas, as de cunho preconceituoso deixamos de lado, porém algumas foram extremamente pertinentes, tais como, a formação de uma casta presa ao aparelho do Estado, que nos parece pelas conversas ser de origem militar, que “goza” de privilégios e enriqueceu nos últimos anos, da extrema personificação do processo de mudança do país na figura do presidente Chavez, o que nos parece prejudicial demais, sendo que já vimos esse filme antes e por último (polêmicas à parte) a aproximação de um modelo “cubano” que no nosso ponto de vista não é o mais eficaz em relação, por exemplo, ao modelo “chinês” se é que podemos dizer assim, sendo que a Venezuela necessita construir infra-estruturas e gerar riquezas para não depender eternamente da exportação de petróleo, até porque ele não é eterno.

Como geógrafo latino americano torço por ti Venezuela.