segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Conferência de Copenhage: Visão terceiro mundista.

Tenho acompanhado as notícias da conferência sobre o clima nesse dias, sendo terceiro mundista até a medula como opção de vida e geógrafo como opção profissional me julgo no “direito” de tecer algumas considerações.

Para ser sincero sempre vi com alguma desconfiança essa questão “ecológica” desde os tempos da minha graduação quando houve a famosa conferência mundial de meio ambiente também conhecida como RIO 92, o que provocou uma verdadeira “febre” sobre o tema.

É claro que é necessário equacionar o crescimento economico com as condições naturais do planeta e que existem problemas sérios a serem enfrentados como as reservas de água doce, o crescimento desordenado de centros urbanos, a pressão sobre os recursos naturais em países de alto crescimento econômico e super-populosos como China e Índia e é claro o padrão de consumo americano que precisaria de “10 planetas terras” se todos os tivessem, entre outros problemas.

Porém, vejo sinceramente, essa temática do “aquecimento global” com desconfiança dentro de algumas óticas que vou expor:

1. Por que esse tema é exaustivamente debatido pela mída mundial, sendo que, apesar do relatório do IPCC, existem cientistas afirmando que não está havendo o tal do aquecimento global e que o mesmo depende de complexos fatores que não só a emissão de CO2?

2. Por que é exigida medidas que podem conter o ritmo de crescimento de alguns países subdesenvolvidos justamente num momento em os países desenvolvidos perdem força e que os chamados BRIC’s (Brasil, Rússia, Índia e China) desenham uma nova conjuntura á nível mundial?

3. Será que os países e instituições poderosas estão mesmo a fim de resolver o problema do “aquecimento global”?

Sobre a primeira temática cabe ouvir a palavra de alguns especialistas como o Geógrafo Aziz Ab Saber, mas quero me deter ao que afirma o doutor em Metereologia pela Universidade de Wisconsin (EUA), o brasileiro Luiz Carlos Balcieiro.

Para o mesmo, aquecimento e resfriamento do clima depende de fatores mais complexos tais como a capacidade de emissão de energia vinda do sol, a inclinação do eixo do planeta e a temperatura dos oceanos, sendo que os mesmos correspondem a 71% da massa do planeta, entre outros.

Balcieiro afirma que o aquecimento das temperaturas no planeta cessou em 1998 tendo como fator motivador o resfriamento das águas do Pacífico que passou de 1977 a 1998 tendo suas temperaturas mais elevadas e que a partir do mesmo de 1998 até 2020 terão suas águas mais frias, num movimento ciclico natural de resfriamento e aquecimento.

Além disso, o metereologista compara os índices de CO2 lançados pelo homem (6 bilhões de toneladas ao ano) e pelos ciclos da natureza (oceanos, pólos e vegetação com 200 bilhões de toneladas ao ano). Portanto que diferença faz diminuir os índices de CO2? É claro que a utilização dos combustíveis fósseis e fontes de energia soltam outros gases nocivos que não somente é o CO2

O cientista afirma também que as medições da elevação da temperatura feitas pelo IPCC podem ter manipulado os resultados, sendo assim as conferências sobre o clima estariam sendo baseadas em dados inverídicos; Portanto sendo utilizados para pressionar países subdesenvolvidos a não utilizem as seus recursos em pról de seus respectivos desenvolvimentos, aliás, que já foram utilizados pelos países ricos no passado. Será?

Sobre a segunda temática é necessário observar as projeções do próprio Banco Mundial prevendo num futuro não muito distante, que dentre as cinco maiores economias do mundo estarão a China (a primeira), a Índia e o Brasil.

Portanto me causa estranheza que essas conferências do meio ambiente coloquem especialmente Brasil (por conta do enorme rebanho bovino e o desmatamento na Amazônia) e China (por conta do seu extraordinário crescimento baseado em fontes de energia não renováveis) como, entre outros, os principais vilões da História.

Em relação a terceira temática, interessante observar a reportagem da revista “Carta Capital” no última semana, a mesma afirma o aporte financeiro direcionado para salvar o mercado financeiro da crise de 2008 foi de $11, 9 trilhões de dólares ( O PIB DOS EUA BEIRA A CASA DOS 13 TRILHÕES DE DÓLARES!) foram realizados com extrema rapidez e agilidade.

Segundo a revista a quantia equivalente para substituir o padrão tecnológico do mundo, ações para substituição de utilização de fontes alternativas (eólica, solar, nuclear, etc). e ações para amenizar os efeitos do aquecimento global em países pobres seria de U$ 270 BILHÕES durante todos os anos da próxima década.

Ora, sabendo-se que o valor oferecido por países e instituições poderosas para conter o “aquecimento global” é 9 vezes menor que os U$270 BILHÕES necessários, cabe a pergunta:

Será que eles estão afim mesmo? Será que esse discurso não resultará numa camisa de força aos países em desenvolvimento? Será a tese do aquecimento global uma nova farsa como foi a teria de Malthus sobre o crescimento da população mundial?


O futuro dirá.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Fumou e tragou.

O príncipe da sociologia dessa vez se superou, em artigo publicado no jornal “Zero Hora”, no melhor estido UDN-LACERDA, lançou manifesto para atiçar a classe média e conclamar os setores reacionários a reagir contra o que ele chamou de sub-peronismo, uma espécie de República Sindical comandanda pelos fundo de pensão, após a vitória de Dilma.

Será uma piada de mau gosto em pleno feriado de finados? Será que ele pirou de vez na falta de Dona Ruth? Ou será que finalmente ele fumou e tragou a maconha que outrora afirmou não ter sorvido?

Seja lá o que for, nas alamedas entre a marginal Pinheiros e a avenida Paulista e no ninho Demo-Tucano essa notícia não foi lá muito bem recebida, afinal de contas, até as pedrass imóveis na praia sabem que qualquer aparição do princípe faz com que a candidatura adversária suba como um cometa.

Certa vez um amigo de infância me questionou de forma enfática o porquê da minha “implicância” com o príncipe, afinal de contas ele foi professor da FFLCH, teve um passado de “esquerda” e resistiu “bravamente” a ditadura militar.

Não bastava afirmar para o mesmo, que quando ele esteve pelo Alvorada tentou "apagar" de todas as formas tudo que escreveu como "intelectual" , lembrando que "vossa alteza" teve como principal obra a chamada teoria da dependência, que diga-se de passagem é mediocre diante de outras interpretrações sobre o Brasil.

Não bastava afirmar também que o “desmantelamento da herança varguista” teve como resultado um país que duplicou sua dívida com o mercado sem construir um alfiente, pedido de "pinico" ao FMI três vezes, entre outras pérolas como Daniel Dantas, Salvatore Cacciola, Contas CC-5, Ilhas Cayman (Pergunte ao delegado Protógenes) e vai por aí afora.

Afinal de contas para quem fala francês na Sourbone, a corrupção tem que atingir um patamar de crime financeiro, gente fina é outra coisa né?

Mas como sou curioso pesquisei algo que tantasse provar que eu não estava sendo implicante com uma figura tão elegante como o príncipe, e a resposta veio no livro “O príncipe da Moeda” de Gilberto Vasconcelos e na bem documentada obra “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura.”

Como sabemos o príncipe não passou o menor aperto no período da ditadura, afinal parece que tinha “costas quentes”, foi exilado e quando voltou, atráves do CEBRAP(centro de pesquisas fundado por ele em 1968), recebeu incentivos monetários da fundação FORD.

Para o autor do Princípe da Moeda, a fundação citada era uma “agência do imperialismo” em terras tupiniquins e que na realidade cultivou entre coleguinas da USP a noção de que o inimigo principal era Getúlio Vargas e o chamado “populismo”.

Afinal de contas, o príncipe e seus coleguinhas (Weffort's da vida) pregavam a revolução frequentando os salões quatrocentões da elite paulistana sem levar em conta a “questão nacional” como estratégica, Afinal de contas o povo que fume maconha estragada né princípe?

domingo, 4 de outubro de 2009

Os cães ladram, mas a caravana passa.

Sexta feira, dia 2 de outubro de 2009 por volta da 1 e meia da tarde no Brasil, nas areias de Copacabana há uma explosão de alegria diante do anúncio do Rio de Janeiro como sede das olimpíadas de 2016, a decisão tomada na distante capital da Dinamarca é o suficiente para que o Presidente Lula desabafe de forma emocionada afirmando que definitivamente abandonávamos o complexo de vira-lata de Nelson Rodrigues, afinal de contas havíamos ganho na disputa das cidades de primeiríssimo mundo como Tóquio, Madrid e Chicago. (Isso sem falar dos bilhões de investimentos e milhões de empregos que pode gerar um evento desse porte).

Ao mesmo em Tegucigalpa o golpista Michelleti dá sinais de que pretende negociar com Zelaya, numa prova inconteste do sucesso da política externa do atual governo do Brasil que definitivamente, além de ampliar nossas parcerias comerciais e gerar vultuosos superávits, nos colocou definitivamente como uma liderança no âmbito da América Latina.

Entretanto nos arraiais de Moema, Morumbi, Itaim, Mooca, Jardins, na casa dos bem alimentados paulistanos (saudosos do movimento de 1932 ou da marcha de Deus e a família pela liberdade), há um “chororô” generalizado, afinal de contas como eles podem agüentar que o Brasil ouse obter uma posição de destaque no mundo ainda mais sob a liderança do sapo barbudo, nossa aí já é demais NE!!!!!. Até porque eles podem ser descendentes de alemães, italianos, espanhóis, franceses, coreanos, enfim descendentes do raio que o parta menos brasileiros. (Um verdadeiro horror para eles).

Pouco importa se as reservas de petróleo estacionadas próxima ao litoral do Espírito Santo á Santa Catarina (também conhecidas como pré-sal) que se bem utilizadas, podem representar um enorme salto de qualidade ao país, aliás fruto da competência da Petrobrás que se destaca entre as dez maiores empresas do mundo e da Universidade Federal da Bahia que iniciou as pesquisas sobre reservas de petróleo em águas profundas há algumas décadas.

O importante para “eles” e para os “donos” da mídia nativa (Civita, Frias, Marinho e Saads da vida), é ver o Brasil numa posição cada vez mais subalterna, como era exatamente na época do príncipe da sociologia vide o caso do projeto SIVAM que se curvou aos interesses de Bill Clinton e da empresa americana Rayethon lá pelos idos dos anos de 1990.

Muitas vezes me perguntei porque na minha cidade não havia uma avenida chamada “Getúlio Vargas”, hoje mais maduro chego a conclusão de que eles não gostariam nem que tivesse ocorrido a revolução de 1930, pois nessas condições jamais um tal sapo barbudo ousaria sair do torno ou até porque nem haveria um torno e sim um tronco para castigá-lo, pois estaríamos ainda com um belo exportador de “commodities” de café com pleno poder ás oligarquias e jamais teríamos uma Petrobrás e uma Embraer.

Para minha felicidade estamos , apesar dos pesares e aos “trancos e barrancos”, construindo o Brasil que queremos e por mais que os cães ladram a caravana passa.

domingo, 31 de maio de 2009

Financeirização e precarização: os males do Brasil são

Os dois efeitos mais graves das políticas neoliberais são a financeirização da economia e a precarização das relações de trabalho. Ambas são resultados da mesma política de desregulamentação, de eliminação das travas à livre circulação do capital – elemento chave das políticas neoliberais, resultado do diagnóstico segundo o qual o que havia levado a economia mundial ao estancamento seria a excessiva quantidade de limitações e regulamentações para que o capital reativasse a economia. Quanto à força de trabalho, a diminuição do seu custo de contratação levaria ao aumento do nível de emprego.O que se viu foi algo totalmente diferente. Liberado de regulamentações, o capital se transferiu maciçamente do setor produtivo ao financeiro, passando a concentrar-se na especulação. Mais de 90% das trocas econômicas no mundo não se referem a bens e serviços, mas a compra e venda de papéis, que não geram nem riqueza, nem emprego. São movimentos parasitas, que concentram renda e sugam ganhos da riqueza da esfera produtiva. A desregulamentação promoveu a hegemonia do capital financeiro, típica da era neoliberal. Um capital financeiro já não mais dedicado a financiar a produção, o consumo, a pesquisa, mas dedicado à compra e venda de papeis nas Bolsas de Valores e dos papéis dos Estados endividados.A financeirização significa que os Estados se deixaram capturar pela lógica financeira, seu primeiro compromisso – frequentemente o único sagrado – é o pagamento dos juros da dívida, para o que se reserva o superávit fiscal. Grandes empresas passam a dedicar-se, ao lado das suas atividades originarias, à especulação financeira. Quem está endividado, devido ao estratosférico nível dos juros, não consegue se livrar das dívidas. Outros não se aventuram a abrir uma pequena ou media empresa, a comprar algo, com medo do endividamento. Assim o capital financeiro se tornou a espinha dorsal das nossas economias. Tudo o resto é setorial – fechamento de empresas, de leitos de hospital, perdas de empregos. Só o que toca ao capital financeiro é “sistêmico”, como dizem os economistas neoliberais.Ao mesmo tempo, o que se propagou como “flexibilização” do mercado de trabalho, na realidade se deu como “precarização”, isto é, como expropriação dos direitos dos trabalhadores, fazendo com que a maioria deles não tenha mais contrato com carteira de trabalho. Não tem segurança de continuidade do emprego, não podem associar-se, não podem apelar à justiça, não tem uma identidade profissional e social. Não são cidadãos, no sentido de que um cidadão é sujeito de direitos e eles não têm direitos na atividade fundamental de suas vidas.Lutar contra o neoliberalismo e passar a construir um modelo alternativo, posneoliberal, tem centralmente a ver com esses dois fenômenos, estruturais no neoliberalismo: a hegemonia do capital financeiro e a fragmentação e submissão dos trabalhadores à superexploração e à impotência organizativa. É trabalhar contra o capital especulativo e a favor da grande maioria da população – que vive do trabalho – e, através dele, cria as riquezas do país.Quebrar a hegemonia do capital financeiro significa terminar com a sua autonomia, de fato, no Brasil e suas estratosféricas taxas de juros, que remuneram, atraem e incentivam o capital financeiro a especulação. Submeter a política financeira à política geral do governo e à política econômica em particular, que teve o mérito de reintroduzir o desenvolvimento – e associá-lo estreitamente – a políticas sociais, e que para tanto não pode ter uma política do Banco Central, favorecendo ao capital especulativo, autônoma.Por outro lado, favorecer o mundo do trabalho significa seguir fortalecendo o mercado interno de consumo popular, mediante políticas redistributivas de renda, mas especialmente não conceder nenhuma isenção, crédito ou qualquer forma de favorecimento do capital privado, sem ter obrigatoriamente contrapartidas ao nível do emprego – um dos índices fundamentais de um governo com alma social.



Essa postagem é um texto do professor Emir Sader (blog) não tenho tido tempo de escrever textos próprios devido aos compromissos profissionais

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Quem está doente: Adriano ou os outros?

Que sociedade é esta que, quando alguém diz que não estava feliz no meio de tanto treino, tanta pressão, tanta grana, tanta viagem, que prefere voltar à favela onde nasceu e cresceu, compra cerveja e hambúrguer para todo mundo, fica empinando pipa – se considera que está psiquicamente doente e tem que procurar um psiquiatra? Estará doente ele ou os deslumbrados no meio da grana, das mulheres, das drogas, da publicidade, da imprensa, da venda da imagem? Quem precisa mais de apoio psiquiátrico: o Adriano ou o Ronaldinho Gaucho?O normal é ter, consumir, se apropriar de bens, vender sua imagem como mercadoria, se deslumbrar com a riqueza, a fama, odiar e hostilizar suas origens, se desvincular do Brasil. Esses parecem “normais”. Anormal é alguém renunciar a um contrato milionário com um tipo italiano, primeiro colocado no campeonato de lá.Normal é ser membro de alguma igreja esquisita, cujo casal de pastores principais foram presos por desvio de fundos. Normal é casar virgem, ser careta, evangélico, bem comportado, responder a todas as solicitações e assinar todos os contratos. Normal é receber uma proposta milionária de um clube inglês dirigida por um sheik, ficar pensando um bom tempo, depois resolver não aceitar e ser elogiado por ter preferido seu clube, quando antes ele ficou avaliando, com a calculadora na mão, se valia a pena trocar um contrato milionário por outro.Considera-se desequilibrado mental quem recusa um contrato milionário, para viver com bermuda, camiseta e sandália havaiana. Falou à imprensa de todo o mundo, disposta a confissões espetaculares sobre o que havia feito nos três dias em que esteve supostamente desaparecido – quando a imprensa não sabe onde está alguém, está “desaparecido”, chegou-se até a dizer que Adriano teria morrido -, buscando pressioná-lo para que confessasse que era alcoólatra e/ou dependente de drogas, encontrar mulheres espetaculares na jogada.Falou como ser humano, que singelamente tem a coragem de renunciar às milionárias cifras, eventualmente até pagar multar pela sua ruptura, dizer que “vai dar um tempo”, que não era feliz no que estava fazendo, que reencontrou essa felicidade na favela da sua infância, no meio dos seus amigos e da sua família.Este comportamento deveria ser considerado humano, normal, equilibrado. Mas numa sociedade em que “não se rasga dinheiro”, em que a fama e a grana são os objetivos máximos a ser alcançados, quem está doente: Adriano ou essa sociedade? Quem ter que ser curada? Quem é normal, quem está feliz?


Postado por Emir Sader às 11:46

sábado, 25 de abril de 2009

O Enigma LULA: Decifra-me ou te devoro

O último livro do historiador Emir Sader traz esse intrigante título num dos capítulos referindo-se ao governo Lula que já começa a entrar no seu crepúsculo com a passagem da metade do segundo mandato.

A idéia de enigma parte do questionamento a respeito das ações desses quase sete anos de mandato de governo, críticas partem da chamada esquerda “radical” como o PSOL e o PSTU que chega as raias da insanidade ao eleger Lula como principal inimigo, além de aliar-se ao conservadorismo em votações no congresso, críticas também partem da direita que através da mídia faz de tudo para “sangrar” Lula, o fato é que ambos não conseguem decifrar o enigma do presidente que possui altíssimos índices de aprovação

Será esse governo uma mera continuidade do governo FHC? Com uma política econômica ortodoxa com juros elevados, altíssimos lucros para os bancos, independência do Banco central tendo a frente Henrique Meireles. Ou será um governo realmente de esquerda?
Com políticas de transferência como o bolsa família, o aumento real do salário mínimo, o aumento do nível de emprego, mesmo que os mesmos sejam precários, além de uma política externa “terceiro-mundista” com a diversificação das parceiras comerciais com países como China, Índia, países do oriente médio, além da tentativa de maior integração política com a América do Sul.


Na realidade o governo Lula não deixa de ter essas e outras contradições, o mesmo representa um acúmulo de forças que se formou desde a resistência do período militar tendo em seu leque a esquerda da igreja católica, os trabalhadores organizados e parte da intelectualidade. Porém no nosso entender, apesar de ter em seu seio setores representativos, o PT não foi efetivamente capaz já em 1989 de estar á altura do desafio de derrotar Collor e o que é pior enfrentar concretamente o consenso neoliberal que estava por vir nos anos de 1990.

O PT sempre teve como programa de governo uma mistura de “ética política” com justiça social como se apenas isso bastasse para enfrentar os grandes desafios que o fim do modelo que norteou nosso crescimento de 1930 a 1980 nos colocou, além é claro da imposição política de Washington, da desregulamentação financeira, das privatizações e da abertura de mercado desenfreada que provocou desemprego e quebra de grande parte da indústria nacional nos anos de 1990.

Faltou embasamento teórico e maturidade política que infelizmente nem Palocci nem Genoíno e muito menos Mercadantes da vida nunca tiveram, a persistência de Henrique Meireles na frente do banco central representa essa falta de maturidade, pois o mesmo é a imposição do capital financeiro dentro do governo, porém Lula quando age por sua própria capacidade de análise (sem medo) acerta barrando o processo de esvaziamento do estado (no que ele tem de pior) e impondo, mesmo que de forma tímida, uma agenda um pouco mais desenvolvimentista nesse segundo mandato através do PAC.

Apesar das contradições, Lula, na nossa visão, representou avanços e não faz menor sentido jogarmos água nos moinhos daqueles que querem ver o povo e Lula pelas costas, por isso, cabe a esquerda decifrar não só o enigma Lula, mas também decifrar os desafios que essa nova crise nos impõe, senão seremos devorados novamente pelos Henriques Meirelles da vida.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Impressões sobre a Venezuela

Estive no nosso vizinho ao norte entre os dias 29/12/2008 a 07/01/2009, muita gente me perguntou antes da viagem qual seria o sentido da mesma, já que outros destinos seriam mais atraentes para um turista brasileiro, porém antes de sermos turistas, eu e meu amigo Fábio somos geógrafos, portanto desde Humboldt (guardadas as devidas proporções) no século XIX em suas famosas viagens pela América do Sul, temos a curiosidade de conhecer outras realidades, de sentirmos o “cheiro dos lugares”, de conversar com as pessoas, ou seja, os geógrafos precisam de viagens assim como o peixe necessita de água.

O destino Venezuela foi decido sob a influencia de várias fatores que vão desde a vontade de conhecer mais um país latino americano ao fato de aproveitarmos as milhagens acumuladas da TAM, porém a principal motivação foi desejo de conhecer um pouco mais desse rincão do terceiro mundo que vêm ganhando destaque internacional desde o início dos anos 2000 devido a chegada ao poder do militar Hugo Chavez Frias com sua retórica forte e muitas vezes explosiva e a sua controvertida “revolução bolivariana”, portanto por uma mistura de curiosidade “geográfica” com simpatia ao “comandante” embarcamos rumo á Caracas.

Chegamos ao nosso destino numa manha de segunda feira e logo que embarcamos num táxi já percebemos pelo trajeto ao hotel, o que já imaginávamos, uma cidade de grande beleza, porém uma típica capital do terceiro mundo capitalista cheia de contrastes e com grande “déficit social” que poderia ser observado através do grande número de favelas presentes nos “morros”, ( algo bem parecido com o Rio de Janeiro), assim como, carros de ultima geração tipo “Cherokee, BMW, Mercedez, etc” trafegando pelas ruas num transito tão caótico que deixaria qualquer paulistano com saudades de sua terra natal.

Nos dias que se sucederam, é obvio que conversamos com as mais diferentes pessoas dos mais diferentes níveis desde camelos a famílias da classe média, passando pelas universidades de Mérida e Caracas a respeito do governo bolivariano, sendo muito evidente a polarização radical da sociedade entre aqueles que “amam” e aqueles que “odeiam”, havendo um “empate técnico” em nossas “entrevistas”.

Parece bastante evidente o fato de que não podemos tirar conclusões definitivas apenas com conversas, porém é bastante eloqüente que o “cheiro” e as “vozes” das “calles” representem um termômetro razoável do “estado geral das coisas”, por isso fazendo uma retrospectiva do que ouvimos cheguei a algumas conclusões parciais a respeito do processo vivido no nosso querido vizinho.

Em primeiro lugar me parece claro que a política externa do presidente Chavez possui “exageros” verbais, que podem afugentar alguns investimentos externos, porém o peso desse aspecto me parece ser levemente relativo, haja visto que o país que mais recebe os chamados IED”S no planeta está sob a batuta do partido comunista (China)

Porém, ainda na política externa, me parece bastante interessante o papel da Venezuela na OPEP, conseguindo fortalecer a organização que estava bastante debilitada até os anos de 1990, por interferência dos Estados Unidos, é bom lembrar que a mesma, apesar de ser um cartel, é uma das poucas organizações econômicas com predominância maciça de países do terceiro mundo.

Outro aspecto interessante observado é a tentativa de fortalecimento da unidade sul-americana, através de políticas comuns fortalecendo nosso sub-continente na esfera internacional, do ponto de vista econômico, a construção de infra-estruturas na escala continental seria muito interessante especialmente para o Brasil podendo representar um ciclo de grandes investimentos nessa época de crise mundial.

Em relação às questões internas o que podemos observar de positivo é o apoio maciço da população mais carente ao governo Chavez, em nossas “entrevistas” constatamos que muito provavelmente houve avanços nos setores essenciais como saúde e educação, a formação de cooperativas e o apoio ao chamado “circuito inferior” da economia presente nas grandes feiras de comércio popular das ruas de Caracas, chegamos até ouvir de um jovem na universidade de Caracas que “não tem emprego na Venezuela hoje quem não quer”.

Apesar que, e é importante isso ser ressaltado, o preço do petróleo já não é o mesmo que no início dos anos 2000, podendo ter interferência direta nesse processo, a ver.

Todavia, apesar das opiniões desencontradas, um fato é inquestionável, ninguém se perpetua no poder, através de consulta popular e eleições diretas (apesar da mídia afirmar o contrario), durante dez anos se não oferecer avanços à população mais carente, que na Venezuela, assim como no Brasil formam a maioria da população; Há tempo: Chavez possui 60% de apoio no referendo a ser realizado em fevereiro.

Em relação às críticas, as de cunho preconceituoso deixamos de lado, porém algumas foram extremamente pertinentes, tais como, a formação de uma casta presa ao aparelho do Estado, que nos parece pelas conversas ser de origem militar, que “goza” de privilégios e enriqueceu nos últimos anos, da extrema personificação do processo de mudança do país na figura do presidente Chavez, o que nos parece prejudicial demais, sendo que já vimos esse filme antes e por último (polêmicas à parte) a aproximação de um modelo “cubano” que no nosso ponto de vista não é o mais eficaz em relação, por exemplo, ao modelo “chinês” se é que podemos dizer assim, sendo que a Venezuela necessita construir infra-estruturas e gerar riquezas para não depender eternamente da exportação de petróleo, até porque ele não é eterno.

Como geógrafo latino americano torço por ti Venezuela.