quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A origens da cidade de São Paulo

Esse texto é uma homenagem ao historiador Caio Prado Júnior que escreveu um belíssimo estudo histórico e geográfico sobre a cidade de São Paulo em 1933.

São Paulo (CAPITAL) no início da sua colonização era uma região extremamente pobre do ponto de vista natural, principalmente no que está relacionado à qualidade de seu solo, porém hoje é o principal centro do capitalismo nacional com um amplo mosaico de culturas regionais e internacionais convivendo num curto espaço.

Por isso cabe a pergunta do porquê uma região de geografia física inóspita conseguiu tornar-se o principal pólo econômico da América Latina?

Caio Prado nos oferece excelentes pistas sobre a posição estratégica em termos geográficos da cidade de São Paulo.

A chamada Serra do Mar estende-se da Bahia ao sul do país numa faixa paralela ao oceano Atlântico dividindo a porção leste e meridional do nosso território em planícies litorâneas e áreas planálticas em direção ao interior do continente.

Na altura da latitude 24 na direção de São Vicente surge o primeiro centro de planalto da colônia num lugar onde ocorre um “estreitamento” da faixa litorânea sendo que a largura da planície praiana não ultrapassa 15 quilômetros, o que motivou os jesuítas ultrapassarem a “barreira” da serra do mar e instalarem-se no planalto onde o clima “temperado” era mais “agradável” aos moldes europeus e onde não existiam as condições insalubres do litoral “tropical”.

A pressão colonizadora em direção ao interior do país escolheu São Paulo como ponto de partida, pois era justamente esse local que oferecia maior facilidade de acesso pela serra do mar, ao contrario de outras áreas como próximas ao litoral norte de São Paulo onde a serra citada continha descidas abruptas e perigosas.

Assim sendo comparando-se as demais passagens da serra esse era o ponto ideal com apenas um abrupto a vencer e tendo depois um terreno plano de percurso fácil, não é por acaso que os próprios índios já haviam escolhido esse trajeto de penetração mesmo antes da colonização portuguesa.

A formação e desenvolvimento da atual cidade surgem na clareira natural da floresta que revestia o território paulista, ou seja, os Campos de Piratininga.

Além da clareira como obvio fator de facilidade de instalação humana, os Campos de Piratininga possuíam uma posição estratégica muito favorável em relação à ameaça de ataques externos, pois ocupa o alto de uma colina onde está exatamente hoje o chamado pátio do colégio sendo um divisor de águas entre o Tamanduateí e o Anhangabaú podendo-se observar dali qualquer movimentação mesmo que longínqua de um possível inimigo.

Por último há que se ressaltar São Paulo com seu relevo e sistema hidrográfico favorável tendo “corredores naturais” que impulsionaram e tornaram mais fácil o caminho da onda colonizadora em direção ao interior.

Em direção a leste o Vale do Paraíba, em direção ao nordeste o sul de Minas, em direção ao norte Jundiaí, Campinas e Ribeirão Preto, em direção a noroeste pelo rio Tiete, Piracicaba e Araraquara em direção a oeste, Sorocaba.

Portanto Caio Prado Junior, apesar de historiador faz uma excelente análise de como o espaço e a posição estratégica fizeram com que São Paulo se transformasse no principal “elo” de ligação entre o comércio externo via litoral e a colonização do interior do nosso país.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Consumismo infantil

Chegando próxima a data do Natal, aonde milhares de pais e mães irão freneticamente às compras para satisfazer os desejos “encomendados” pelos seus filhos podemos refletir a respeito de uma questão extremamente delicada e complexa que é a do marketing direcionado ao público infantil.

A publicidade possui dois objetivos básicos:

a) Informar que tal produto ou serviço existe com tais qualidades;
b) Convencer o virtual consumidor a adquiri-lo.


Na minha percepção a grande maioria das propagandas estão focadas no segundo objetivo, valendo-se de todo tipo de artifício subjetivo e idílico com a promessa fantástica de felicidade, longevidade, sexualidade, potencialidade, etc embutido por exemplo numa propaganda de carro sem nada falar muitas vezes das próprias qualidades do veículo.

Cabe nos perguntar se nós adultos mesmo tendo recursos intelectuais afetivos e psíquicos não conseguimos “resistir” a sedução das peças publicitárias imagine as crianças que são bombardeadas por uma publicidade específica e extremamente eficaz.

Podemos dizer que existe um verdadeiro “bombardeio simbólico” que adentra as defesas psíquicas das crianças para convencê-las a comprar compulsivamente, porém cabe perguntar se as mesmas possuem condições para estabelecer dentro de suas cabecinhas a relação exata entre consumo e trabalho? Ou mesmo estabelecer parâmetros entre necessidade, desejo e supérfluo?

Lembro-me até hoje quando ganhei um boneco “Falcom” e recordo-me tão bem da minha imensa decepção quando percebi que o mesmo não voava como na televisão, meus pais, que na época deviam ter pago uma boa quantia, devem ter ficado decepcionados pois depois de 10 minutos lá estava eu brincando novamente com meu futebol de botão

Há no Brasil uma proposta de parâmetros curriculares nacionais que propõe estabelecer desde o ensino fundamental o tema “Trabalho e consumo”, para mim um bom começo, pois nossos jovens estão definitivamente contaminados pela “fábula” do sucesso e da aceitação através de alguns objetos de consumo, todos sabem também que entre outros motivos a delinqüência juvenil está relacionada ao abismo existente entre desejo de consumo e a real possibilidade de adquiri-los para sermos “felizes de verdade”.

Por isso acredito fielmente, baseado na minha experiência de 10 anos de magistério, lidando com adolescentes e jovens, que esse problema deve ser encarado, pois percebo uma degradação (não digo em todos) de seus valores morais e intelectuais, pois tudo para muitos não passa de um simples consumir rápido e não um processo; Isso ficou bem claro pra mim na minha experiência como professor de curso pré-vestibular onde por mais que o assunto fosse interessante e importante sempre vinha àquela pergunta que doía na alma, mas professor isso vai cair no vestibular?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Hoje faz um ano, apenas para corintiano(a)s.

Exatamente há 365 dias nós (corintianos) vivemos o dia mais amargo da nossa História, lembro que como se fosse há cinco minutos atrás eu sentado no sofá de casa gélido, parado, triste, amargurado e terrivelmente frustrado e revoltado com o que via diante dos meus olhos, sim o Corinthians pela primeira vez em seus 98 anos de História estava rebaixado para a segunda divisão, isso sem contar o barulho que nossos adversários fizeram pelas ruas, parecia até final de copa de mundo, todos os corintianos como eu passaram por essa terrível experiência e devem ter bem vivo esse momento na memória.

Acredito que certos fatos não podem ser esquecidos, pois primeiro nos servem de exemplo e por outro lado nos dão força para que aprendamos as lições e possamos dar saltos maiores em direção a um futuro mais promissor.

O fato ocorrido há um ano foi na verdade a crônica de uma tragédia anunciada, pois era do conhecimento até das pedras do reino mineral que a administração corrupta de Alberto Dualib somada há uma parceria mafiosa (no sentido literal do termo), iriam desembocar inevitavelmente em “papagaios” (vide Nilmar e Passarela), dívidas e na inevitável queda para série B.

Passado um ano, não quero me atentar a recuperação do clube e no apoio da fiel torcida que deu mais uma vez prova do seu amor incondicional, isso na verdade era mais do que previsível, pois conheço essa simbiose (clube-torcida) há 30 anos, modéstia à parte, apesar disso, reconheço, senti uma grande emoção no dia do jogo do Ceará quando os jogadores correram em direção da fiel, senti naquele momento que nossa dignidade estava resgatada e que o Corinthians mais uma vez ressurgiu das cinzas.

Entretanto acredito que isso é muito pouco para o clube que tem uma das maiores torcidas do planeta, precisamos usar o dia 02 de Dezembro para projetar nosso futuro, pois convenhamos, nosso passado nunca esteve a altura da grandeza da nossa fidelidade, analisando a História do SCCP temos apenas dois períodos gloriosos, o primeiro de 1910 a 1954 onde éramos o maior “papa títulos” da época e no curto período de 1998 a 2000.

Exceto os dois momentos citados, nos contentamos em ser o “time de raça” que, aliás, sempre foi usado politicamente por aqueles que usurparam o poder no Corinthians durante décadas, na minha modesta opinião somos o time da garra sim, porém NUNCA estivemos a altura do que merecemos.

Por isso é necessário projetar o Corinthians além de rivalidades regionais, sem perder é claro sua identidade, e que possamos ser aquilo que realmente merecemos ser, um time de projeção nacional e mundial.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Meu Halloween na barraca do Marquinhos

Essa nova fase de solteiro confesso que às vezes é meio complicada, a vantagem é poder ter a liberdade de fazer o que quer, mesmo que seja a coisa aparentemente a mais “esdrúxula” como escrever um texto como esse em pleno sábado á noite, a desvantagem é que por mais que tentamos resistir às mulheres, elas nos fazem falta e como fazem (rs).

Bom, levando isso em consideração, passei a ficar mais atento a convites alheios, especialmente os do sexo oposto, pois bem, semana passada recebi um “interessante” convite, primeiramente confesso que fiquei feliz, pois não é todo dia que a sorte bate a sua porta não é mesmo? (rs); Entretanto, para minha surpresa e grande decepção, esse convite era para uma festa de Halloween, nada contra a pessoa, mas festa de Halloween não é lá um convite mais apropriado que se faça para esse geógrafo brasileiro corintiano e terceiro mundista. (Quanta desgraça junta não rs), muito provavelmente me sentiria muito antiquado em tal ambiente.

Talvez você, que está lendo esse texto, pare e pense, mas que cara chato esse não? Afinal de contas o que custa ir a uma festa de Halloween? Porém todos temos limites do que é suportável ou insuportável e para mim infelizmente ou felizmente esse tipo de evento é algo que não consigo digerir com facilidade, pois possui uma extrema simbologia por trás, mesmo não tendo repito rigorosamente nada contra a maioria das pessoas que por ventura vão a uma festa desse tipo.

Obvio que não se trata de xenofobia ou algo parecido, pois existem muitas coisas que vêm de fora e que são de extrema qualidade e nem negar que podemos sim sermos cosmopolitas, porém somos antes de tudo, brasileiros e latino-americanos, por mais que para alguns isso seja uma triste realidade.

Pois bem, penso que chegando a determinado estagio da vida você definitivamente não abre mais mão de ser simplesmente você ou vivenciar aquilo que você mais gosta, isto é, sua história de vida passa a ser mais forte do uma suposta flexibilidade em alguns momentos.

Portanto, definitivamente como coisas como Haloween, espaço gourmet, música eletrônica, rota 66 nas férias, Miami, Disneylândia, papai Noel vermelho, duendes, show da Madona,etc, não fazem mais parte do meu repertório de vida, pois os mesmos representam em nossa sincera opinião, as mais ralas e banais formas neo-colonialismo presentes nesses tempos de “globalização”.

Tal convite, coincidências à parte, me fez lembrar um episódio em que fui quase “linchado” em plena sala de aula quando afirmei que uma das piores coisas que pode ocorrer para um país de terceiro mundo como o Brasil é um cidadão ter sido bancado em sua formação com dinheiro público e depois ser cooptado por uma universidade ou empresa do centro do sistema num processo conhecido como “fuga de cérebros”, nossa quanta ofensa não? Ou mesmo quando afirmei que o Brasil tem vocação para liderança geopolítica e econômica no mundo atual e o que falta ao país é um consistente projeto nacional.

Porém não percebi que estava dialogando naquele momento com pessoas que não enxergam virtude mais “alta” do que a do macaco ou a do papagaio que imitam as vozes e gestos dos seus “superiores” e que muito deles, assim como de pessoas bem próximas, nada pessoal, mas que sentem verdadeira repugnância ao próprio povo brasileiro.

Em relação ao dia de Halloween? Bom, comemorei como comemoraria o dia de ação de graças ué! No ensaio de escola de samba fazendo o tradicional “esquenta” na barraca do brasileiro Marquinhos, que apesar das dificuldades impostas pela sua verdadeira assombração de Halloween, isto é, a fiscalização do poder público que insiste em tratá-lo como um vagabundo, nos oferece tratamento especial com calabreza e pernil aperitivo, cerveja gelada e de quebra nos brindando com uma calorosa conversa sobre os bastidores do carnaval 2009 e olha que nem pedimos pelo número e nem ele fez algum curso de marketing relacionado a “fidelização” do cliente.

Em relação ao convite? Aguardamos sim um mais interessante, mesmo que seja com algo relacionado à cultura internacional, mas que seja algo bom né? Pelo amor de deus!

sábado, 18 de outubro de 2008

Neoliberalismo: Que Deus te leve ou o diabo que te carregue?

Por volta da década 1980, nascia o neoliberalismo, fruto da união entre o clima político criado pela crise do regime socialista na antiga URSS e seus aliados, a sobra de capitais do chamado “Euromercado” resultantes da super acumulação de lucros nos países centrais e dos árabes da OPEP, além do abandono do padrão dólar feito de forma unilateral pelos Estados Unidos rasgando o acordo de Breton Woods pós-segunda guerra mundial.

O neoliberalismo sempre foi uma criança mimada e egoísta, papai Ronald Reegan e mamãe Thatcher sempre alimentaram o bebe com quantias vultuosas advindas da redução dos gastos do estado e do maior ataque da História aos benefícios sociais até nos chamados países da Europa Ocidental onde o chamado “Estado de bem estar social” era muito presente, Aliás, nada deixava essa abastada criança mais irritada do que a palavra Estado

Porém a fome desse adolescente nos anos 1990 era algo inacreditável, não bastava apenas às elevadíssimas taxas de lucro possíveis agora através das rápidas transações via tecnologias da informação, ele precisava da chamada desregulamentação dos chamados mercados financeiros e da abertura desenfreada na economia dos países subdesenvolvidos através das privatizações e do comércio livre.

Essa volúpia por lucros cada vez maiores criou uma espécie de mercado virtual que foi chamado por Milton Santos de “Dinheiro em estado puro”, provocando efeitos colaterais terríveis em países periféricos na Ásia e América Latina nos anos de 1997, 1999 e 2000.

A sede desse jovem aumentou ainda mais nos anos 2000 quando foi fortalecido um verdadeiro cassino em torno de um dinheiro irreal que transita pelo mundo sem qualquer regulação (hedge funds, derivativos, mercado de ações e câmbio), isso acabou gerando uma situação completamente surreal no chamado mercado de derivativos que gira um valor em torno de U$ 540 trilhões, ALGO INACREDITÁVEL, já que o PIB do país mais rico do mundo gira em torno de U$ 13 trilhões.

Esse garoto acabou quebrando literalmente a “cara” em Wall Street na maior crise financeira desde o crash de 1929, fruto do excesso de ambição e da total falta de regulamentação para saciar seus desejos, agora que ele está praticamente entre a vida e a morte na UTI, depois de tantas overdoses, ele pede ajuda desesperadamente da sua mãe natural e não a adotiva, isto é, a MÃEZONA ESTADO, que irá oferecer um pacote de U$ 700 bilhões de ajuda fora os U$ 250 BILHÕES a serem investidos no mercado de ações (Detalhe: o montante necessário para erradicar a miséria no mundo é de U$150 BILHÕES ao ano).

Durante essas décadas o neoliberalismo mandou e desmandou, ditou as regras da mídia, considerou como “coisas desprezíveis” emprego, garantias sociais, saúde e educação universal, etc; Agora ele está coitadindo com os seus dias contados e pede ajuda ao divino, sinceramente falando? QUE O DIABO QUE TE CARREGUE SEU MOLEQUE!!!!!!!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O "ESPÍRITO" DA ELEIÇÃO"

Como Kassab ultrapassou Marta em São Paulo
O jornalista Mauro Carrara escreve sobre uma reveladora experiência de rua no domingo da eleição na maior cidade do país. "Já são 18h20... Alguém grita do interior da casa: "o Kassab está ganhando". Os três jovens urram de prazer. Está se iniciando a longa noite até o segundo turno".
Mauro Carrara*
Conforme costume antigo, costumo visitar velhos amigos em dias de eleição. Perambulo pela cidade à procura do "espírito" da eleição, pois, sim, cada uma tem o seu, das barbadas aos prélios mais renhidos.Desde cedo, notei certa tendência de defecção nos redutos "progressistas". Havia nos fundos do Tucuruvi um jovem negro, em trajes de grife surfe, distribuindo discretamente santinhos de Kassab. Vejam bem, ele não fazia campanha para um candidato à vereança, mas para o majoritário. Só.O rapaz é estudante do terceiro ano do segundo grau, comprou recentemente seu primeiro computador, a crédito. O pai é vigia (conseguiu carteira assinada há três anos) e a mãe é diarista. Ele atualmente não trabalha regularmente. Nos fins de semana, atua como assistente de som em bailes na região dos Jardins. É o típico emergente da nova classe C.João (vamos chamá-lo assim) afirma que o governo Lula "acostuma mal os vagabundos" com o Bolsa Família. A mãe sempre votou em Marta, mas o pai costuma odiar qualquer petista. "Meu velho não quer saber do casamento gay em São Paulo, nem eu", sentencia, alisando a sobrancelha. Mais tarde, encontro-me na região do Jardim Aricanduva, na Zona Leste. Márcia (vamos chamá-la assim) come uma coxinha num bar próximo a uma escola estadual. Vai votar em seguida.Tem uma colinha de Kassab (DEM) e de um candidato a vereador do PSDB.- Vai votar em quem?- Dessa vez é no Kassab - revela a moça, que graças ao crescimento da renda familiar (ela e dois irmão conseguiram emprego nos últimos três anos) pôde matricular-se numa faculdade privada.- Por que nele? - É o menos pior...- E pra vereador?- Voto é segredo. Mas vai ser no PSDB. Um amigo da faculdade me indicou. É um cara que escreveu vários livros de auto-ajuda.- É o Chalita (ex-secretário estadual de educação)?- A gente precisa de pessoas cultas na Câmara. Esse aí é o melhor escritor do Brasil.- O que você já leu dele?- Ainda não li, porque não tenho tempo. Mas esse meu amigo diz que é muito bom.- A Marta era mais forte por aqui, não era?- Era, mas ela fez o apagão aéreo e mandou o povo gozar depois do estupro. Tem como uma pessoa passar uma hora, uma hora e meia, esperando o avião?- Como?- O povo ficar horas esperando o avião...- É chato mesmo - respondo. - Mas você já viajou de avião? - indago.- Nunca. O mais longe que fui na vida foi para Mongaguá (litoral sul).- Entendo. E o trânsito em São Paulo?- Péssimo. Entre metrô e ônibus, fico umas 4 horas e meia no transporte, todo dia. Não anda.- E de quem é a culpa?- Sei lá... Tem muito carro na rua. Precisava fazer alguma coisa.- E você não acha que o Kassab tem alguma responsabilidade nisso?- (silêncio)... Não sei. Não parei para pensar.- Isso afeta sua vida, não?- Muito, mas a gente tem que lidar com isso...Quase cinco da tarde, na região dos Jardins. O filho de um amigo chega da votação com três colegas. O rapaz é o único que votou em Marta Suplicy. Dos colegas, dois preferiram Kassab. O outro votou em Geraldo Alckmin.- Na verdade, eu e toda minha família somos malufistas, mas o Kassab é o único que pode ganhar dessa "vaca" da Martaxa - diz Paulo (vamos chamá-lo assim), exaltado.- Sim, as taxas devem ter prejudicado muito sua família... - pondero.- Meu pai fez a empresa dele sem ajuda de ninguém. A gente tá cansado de pagar os impostos que o PT inventou. Cada dia tem um imposto novo.- Que imposto novo?- Vários. - Mas quais?- Vários. Tudo para sustentar vagabundo nordestino. E olha que eu não sou nem um pouco racista. Tenho até amigo japonês, negro, de todo tipo. Mas com esse negócio de bolsa, o cara se acostuma a não trabalhar e fica tomando cachaça o dia inteiro. É preciso ensinar o cidadão a pescar, e não dar o peixe.- Mas o Bolsa Família está integrado a vários projetos de promoção e inclusão. Tem a contrapartida educativa... - tento argumentar, quando sou interrompido.- Tem nada. Isso aí é coisa da mídia que o Lula comprou.- Mas a mídia costuma ser contra o presidente - afirmo.- Nada disso. O senhor viaja muito, pelo que eu sei, não é? Aqui, eles inventam pesquisa para dizer que a vida do povão melhorou. Melhorou nada.- Mas e os dados do Ipea, do IBGE?- Eu estudo Administração. Isso é tudo mentira.- Quer dizer que o país não melhorou em nada?- Esse semi-analfabeto deu sorte. Aproveitou o Plano Real e o crescimento da China... Agora, quero ver. Estou só esperando para ver o que vai acontecer. E vou dar risada.- Mas o país não estava muito bem em 2002 - intervenho.- O PT é o "partidão", não é?- Não que eu saiba - respondo.- É sim... Eu abri os olhos de muito colega sobre esse comunismo disfarçado aí... Nessa eleição, eu convenci muito petista a votar no Kassab.- Quem?- O nosso motorista, o jardineiro que vai lá em casa...Já são 18h20... Alguém grita do interior da casa: "o Kassab está ganhando". Os três jovens urram de prazer. Está se iniciando a longa noite até o segundo turno.

domingo, 5 de outubro de 2008

32 mais 32 igual a 64

A cidade de São Paulo é uma espécie de pequena amostra da formação social do nosso país, aqui se reúnem cidadãos de todas a s partes do país e do mundo em busca de oportunidades, talvez o que traduza a identidade dessa cidade seja justamente esse mosaico plural de etnias.

Entretanto na minha cidade natal surgiu e proliferou a elite mais reacionária e anti-nacionalista presente em nosso Brasil, algumas interpretações tentam elucidar o fenômeno, como por exemplo, a formação de uma elite comerciante no século XIX durante as exportações de café muito mais interessada e antenada ao comércio com os ingleses e o consumo opulento nos padrões europeus do que num desenvolvimento endógeno

Outra interpretação está relacionada aos imigrantes que vieram a esse rincão e prosperaram no período de grande crescimento econômico e industrial entre as décadas de 1930 e 1980 transformando-os em pequenos “self-made-mans”, isto é, uma classe média pequena proprietária e orgulhosa dos seus “feitos” e avessa a qualquer mudança social ou causa coletiva.

Uma análise histórica dos momentos cruciais da vida política nacional nos remete a entender de forma emblemática o comportamento desses setores da sociedade paulistana como o próprio movimento de 1932, apesar de ser aparentemente um movimento democrático, tinha um caráter saudosista em relação à política oligárquica da velha república do café com leite, o curioso nesse caso é que a revolução varguista de 1930 teve um caráter altamente modernizador do qual impulsionou a própria economia paulista.

Outro momento emblemático foi o golpe de 1964, um dos episódios mais tristes da história do nosso país, onde nunca é demais lembrar, teve seu respaldo e impulso final quando nobres senhoras católicas realizaram a passeata “Deus e a família pela liberdade” liderada por Leonor, primeira dama do governo do Estado, além é claro do forte apoio do jornal O Estado de São Paulo a marcha que acelerou o processo que culminou na “revolução” de 31 de março.

Em 1989, lembro como se fosse hoje do apoio entusiasmado a Fernando Collor, iniciando o processo de domínio do mercado financeiro nas decisões nacionais, contando obviamente com o deslumbre da elite e classe média de São Paulo, talvez o que esses setores médios nem desconfiam é que eles foram vítimas desse processo de desnacionalização da economia nacional.

Também nunca é demais lembrar que esse caldo sócio cultural criou alguns fenômenos políticos como o Adhemarismo, Janismo e mais recentemente o Malufismo.

Outro detalhe a ser lembrado é postura elitista da própria Universidade de São Paulo que entre outras “obras” renegou o passado varguista criando a idéia de populismo, além de ter sido parte do berço do PSDB e a “banda podre” do próprio PT.

Agora em 2008, os mesmos estão “ouriçados” com Kassab, também pudera eles estão com os nervos a flor da pele com alta popularidade do presidente Lula!

Enfim essa é minha cidade e minha realidade. Quem sabe eu tenha mais sorte na próxima encarnação?

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O 11 DE SETEMBRO NO ALTIPLANO

Já ouvi dizer que a História se repete como caricatura e de fato ela vem se repetindo nesses confins latino-americanos, exatamente hoje faz 35 anos que a experiência democrática e socialista foi interrompida no Chile por uma ditadura cruel comandada por um covarde e repugnante (camundongo lacaio, como, aliás, existem muitos por essas bandas tupiniquins) ser chamado Augusto Pinochet numa conjuntura que envolveu a elite econômica do país, a chamada classe média chilena com suas respectivas forças políticas, no caso a democracia cristã e o partido nacionalista, além do apoio evidente da CIA naqueles anos de guerra fria.

O curioso é que o processo de radicalização das forças de direita no Chile chegou ao seu viés mais violento diante do desespero das mesmas, após a ampliação da base de sustentação da Unidade Popular –U.P. (base de apoio do governo Allende), durante as eleições municipais dois anos depois, em que a mesma U.P., conseguiu eleger Allende com 34% dos votos válidos.

Pois bem, os acontecimentos graves ocorridos esses dias na Bolívia promovidos pelos líderes opositores dos departamentos (leia-se províncias) de Santa Cruz, Pando, Tarija, Chuquiasca com depredação de gasodutos, podendo inclusive afetar o abastecimento do produto no Brasil e a invasão de prédios públicos por jovens brancos de classe média num evidente processo de sabotagem do governo Evo Morales, vêm a nos comprovar que realmente a História se repete como caricatura.

Estive na Bolívia em duas ocasiões, na primeira em 1998, passei alguns dias em La Paz e pude presenciar como esse país é importante no contexto latino-americano tanto por sua posição geográfica (não é a toa que Che Guevara resolve estabelecer uma guerrilha no país como foco de um epicentro revolucionário), como por ser um país de base cultural indígena riquíssima (Aymarás e Quéchuas) e de mazelas sociais típicas da nossa maiúscula América (termo utilizado por Fuser e Granado em suas andanças pelo continente latino americano).

Numa outra ocasião estive em Puerto Soarez na fronteira com Corumbá (MS) onde conheci uma família de classe média que destilava onde ódio aos índios do altiplano, principalmente Evo Morales ameaçando até deixar o país, numa evidente demonstração de rancor e racismo.

Baseado nessas experiências e leituras pude perceber, que a Bolívia hoje é um país dividido entre a população das “áreas mais baixas” como o Departamento de Santa Cruz onde boa parte da população é branca e de classe média e as “áreas altas” como os índios do altiplano andino.

Bastou a chegada ao poder de um líder das “áreas altas” com medidas visando reparar as injustiças históricas contra uma população pobre que nunca conseguiu se beneficiar das riquezas naturais extraídas do seu próprio país para que as mesmas forças que derrubaram Allende em 1973 começassem a agir da mesma forma, com os mesmos métodos e com o mesmo apoio externo. O curioso é que a mais recente vitória de Evo Morales no referendo ampliou sua base de apoio e causou desespero nos setores privilegiados da sociedade boliviana cogitando até na possibilidade de um viés separatista.

Sendo assim podemos dizer que o acerto advém, entre outras coisas, do conhecimento vivências passadas e através delas buscar não repetir os mesmos erros, portanto será necessária a mobilização das forças populares na Bolívia e dos governos latino americanos não comprometidos com o imperialismo para intervir rapidamente para que a História na nossa querida Bolívia não se repita como tragédia.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Corinthians: A vitória do Povo.

Dia primeiro de setembro de 1910, há exatamente 98 anos, no bairro do bom retiro sob a luz dos lampiões quatro operários fundavam o Sport Club Corinthians Paulista, de origem humilde, esse clube entra como intruso em um esporte que até então era reservado a elite paulistana, nascia assim uma paixão que viria a provar, através da magia do futebol, que para o povo jamais existe uma derrota definitiva.

Primeiro clube a aceitar jogadores negros em seu elenco, o Corinthians já na sua segunda década de vida já despontava como a entidade esportiva mais popular de São Paulo, sendo assim, aos poucos foi abarcando mentes e corações daqueles que nunca obtiveram inserção na sociedade brasileira.

Em nossa sociedade o futebol possui uma simbologia muito forte, sendo um dos aspectos culturais mais representativos e tendo profunda penetração em todas as classes e raças; Nesse contexto, o Corinthians assume desde o seu início a marca de time do povo, dos renegados, dos negros, dos imigrantes pobres e dos operários, porém essa paixão ardente hoje abarca um espectro muito amplo atingindo a marca de quase de 30 milhões em todo país, sendo no jargão comercial, um das marcas mais fortes exploradas inclusive pela mídia televisiva.

Podemos dizer assim que a própria existência dos 98 anos de vida do Sport Club Corinthians Paulista é uma das provas definitivas de que o povo brasileiro é capaz de criar suas próprias referências e talvez por isso seja o motivo de tanto preconceito daqueles que afirmam que o nosso time é representado por maloqueiros, bandidos, desdentados, favelados, etc.

O que eles talvez nem percebam é que esse é o motivo do nosso maior orgulho, pois temos a consciência de que somos corintianos maloqueiros mesmo, de que somos o Brasil visto por dentro e que apesar de tudo somos vencedores independentemente das circunstâncias do futebol, ou quem sabe eles percebam isso e por isso destilam o seu ódio por não aceitarem essa vitória do povo em um país onde boa parte da elite ainda tem uma mentalidade escravocrata.

domingo, 24 de agosto de 2008

Che Guevara e a água nos moinhos do imperealismo.

Che Guevara e a água nos moinhos do imperialismo

A simbologia em torno do velho guerrilheiro atinge um significado impar nesse início de século XXI, vejo pessoas, empresas e até grifes famosas utilizando-se da sua imagem numa apologia a rebeldia e a eterna juventude, é bom dizer que lá se vão 40 anos após a sua morte, portanto sua imagem já congelada permite várias interpretações e utilizações.

O grande significado de seu legado persiste, em nova visão, na continuação da luta e na construção de um novo paradigma para uma sociedade mais justa.

Na nossa visão não adianta nada, idolatrar o comandante, sem ter muito claro quais são as correlações de forças presentes no mundo contemporâneo, vejo muita gente supostamente de esquerda criticar as “mazelas” da formação social chinesa, como o “desrespeito” aos direitos humanos, a “invasão de produtos piratas”, a poluição e a questão do Tibete.

Essa falsa esquerda cansa de repetir o discurso da mídia tupiniquim vendida que utiliza imagens e interpretações vindas das chamadas agências internacionais de informação “tipo CNN” ou “FOX NEWS” e nem ao menos percebe que joga mais água ainda nos moinhos do imperialismo e dos atores hegemônicos do período atual.

Seria importante nos perguntarmos em relação aos dois grandes países que adotaram o regime socialista, porque a antiga URSS naufragou e porque a China desponta já hoje como a terceira potência mundial caminhando a passos largos para primeira posição (é bom lembrar que a China era a trigésima sexta em 1978).

A China teve um extraordinário crescimento nos últimas décadas desde a reforma imposta em 1978 por Deng Xioping, quando o país ainda passava por enormes dificuldades econômicas, uma década depois da desastrosa experiência da revolução cultural na década de 1960 e dois anos após a morte de Mao Tse Tung em 1976.

O objetivo principal do planejamento chinês era alcançar as economias do ocidente na virada do século e atingir o mais alto padrão de vida cultural e material do planeta por volta do ano de 2050.

Para isso, primeiramente, o governo central lançou a estratégia de equacionar o problema do campo na China, já que esse país de 1,3 bilhão de habitantes possui cerca de 60% de sua população na área rural, haja visto também a enorme força política do campesinato chinês, fato comprovado tanto na revolução socialista de 1949, quanto na heróica resistência na segunda mundial ou mesmo nas inúmeras dinastias derrubadas no período imperial pré 1911.

Acreditando na idéia de que num regime socialista as pessoas podem “ganhar mais” através do seu próprio trabalho, o governo chinês permitiu a comercialização dos excedentes agrícolas fazendo com que a produtividade no campo aumentasse a partir de então, coisa que, aliás, não foi realizada na antiga URSS, que tinha suas terras totalmente coletivizadas.

Ao mesmo tempo, visando tirar da extrema pobreza milhões de camponeses, o governo começou a criar no campo, áreas produção de bens de consumo leves (principalmente roupas, calçados e tecidos), que com uma alta produtividade começou a “invadir o mercado mundial”.

A partir da “invasão” desses produtos “made in China” dezenas de multinacionais começaram a investir no país, ou seja, o que se costuma afirmar em relação aos produtos piratas ou não, é fruto do planejamento chinês e de investimentos das próprias multinacionais que acabou gerando renda aos camponeses do país mais populoso do planeta.

Agora eu mesmo me pergunto. De que outra forma a China poderia equacionar o problema de emprego para milhões de camponeses?

Muito se diz em relação à exploração de trabalho na China, pois bem, é importante frisar que os excedentes de lucros na China é reinvestido na construção de grandes obras de infra-estrutura que vêm impulsionando o crescimento daquele país como as grandes ferrovias, os aeroportos, portos, eletrificação rural, o metro das grandes cidades como Pequim e Xangai e entre outras gigantescas obras de infra-estrutura a construção da maior usina hidroelétrica do mundo (Três gargantas) que ficará pronta em 2009.

Nenhum país consegue crescer economicamente sem construir grandes infra-estruturas, é bom lembrar que a China produz 40% da produção de aço do planeta (o aço é um dos maiores indicadores do crescimento econômico de uma país)

Apesar da mão de obra ser barata, é evidente o aumento do nível de vida no país, pois o governo concede empréstimos à população mais pobre a juros baixíssimos devido a sua alta poupança interna, conseqüência do constante superávit nas suas relações comerciais com o ocidente, principalmente os EUA.

No próximo texto irei comentar como a China absorve tecnologia do ocidente a partir da criação das chamadas “zonas econômicas especiais”.

Podemos já adiantar que a China não é apenas um “celeiro de produtos piratas” como alguns papagaios dizem por aí.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

CONFUNCIO E PEDRO BIAL

Assisti semana passada a abertura das atuais olimpíadas na China pela rede globo com uma mistura de grande emoção e intensa irritação.

A emoção obviamente proporcionada pelo espetáculo realizado por uma civilização de mais de 5.000 anos, puder ver Confúcio na sua mensagem de paz, harmonia na relação do homem com a natureza e de respeito aos idosos.

Vi também a força de um povo através dos seus tambores, demonstrando que nunca mais será subjugado por nenhuma nação ocidental como foi durante o século XIX na chamada guerra do ópio promovida pelos “civilizados” ingleses.

Essa força ficou claramente demonstrada na bandeira vermelha hasteada com cinco estrelas demonstrando a unidade do povo em torno do partido comunista e na hora em que o estádio levantou-se para cantar a “marcha dos voluntários” criada durante a resistência chinesa a ocupação japonesa durante a década de 1930 e que se inicia com o chamado “de pé os que não querem ser escravos”.

Fiquei emocionado, pois acredito numa civilização de mais de 5.000 anos que apesar dos imensos problemas gerados também pelo seu espetacular crescimento econômico, tirou 400 milhões de pessoas da linha da miséria nos últimos 20 anos e que mantem uma política comercial e de investimentos de superávit com os países ricos e de déficit com os países pobres.

Acredito que a China tem muito a ensinar ao mundo e com certeza será a nação hegemônica na metade do presente século devido a uma abertura comercial e investimentos multinacionais, mas numa estratégia de absorção de tecnologia, investimento maciço em educação e infra-estrutura sob o comando de um forte poder central.

Essa nação será capaz de enfrentar o poder assassino do imperialismo norte americano e criar uma nova correlação de forças entre as nações hegemônicas, bem ao contrário daquilo que os arautos da nossa impressa vendida e bandida afirmam quando sempre se referem à China de forma negativa durante esses jogos.

Alias insuflando um movimento que deseja implantar um governo teocrático e escravista no TIBETE sob a batuta de DALAI LAMA que, sem dúvida, atende aos interesses da CIA para criar um “estado tampão” fantoche dos EUA para fragmentar território chinês, eu pergunto para os meus botões por que a impressa comprada não comenta a respeito das torturas em Guantanamo e porque não reivindica a devolução de territórios do oeste dos EUA ao México?


Acredito nessa civilização e na humanidade e assim como dizia Gramsci um pouco antes de sua morte no cárcere “o socialismo deslumbra horizontes o capitalismo o estreita”.

Em relação ao Pedro Bial? Deixa pra lá, é melhor ele continuar apresentando Big Brother.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Lembranças do Moncada em tempos de globalização II

Quando o assunto é Cuba sempre surgem polêmicas e questionamentos, na verdade essa ilha de um pouco mais de 10 milhões de habitantes possui uma notoriedade bem acima daquilo que ela representa em termos de extensão geográfica e populacional.

Aposto que todos já discutiram (a favor ou contra) ou já presenciaram alguma discussão a respeito desse pequeno país, o fato curioso é que isso não ocorre em relação aos países vizinhos, que alías possuem as mesmas potencialidades de Cuba, tais como Porto Rico, Bahamas, Haiti, Rep. Dominicana, entre outros. Por que será que isso ocorre??

Na nossa interpretação Cuba possui essa capacidade ou essa "aura" de gerar polêmica justamente por ter feito escolhas em momentos cruciais da História e ter enfrentado a maior potência imperialista (o termo é adequado sim ) de todos os tempos, os Estados Unidos.

Portanto, apesar de despertar paixões em todo mundo, Cuba é estrangulada tanto do ponto de vista material (através do bloqueio comercial) quanto do ponto de vista ideológico, sendo alvo da maior campanha contra um país já feita na História do século XX feita pela industria de propaganda ideológica (vide Hollywood) dos EUA e pelos exilados cubanos em Miami, que alias é formada por grandes proprietários de terra da época de Fugêncio Batista constituindo-se assim num grupo de exilados reacionários e até facistas, tendo entre outros feitos, colocado Bush Júnior á frente da Casa Branca nas polêmicas eleições de 2000.

O fato é que, no nosso modo de entender, não podemos cobrar de Cuba uma certa normalidade democrática e institucional, sendo que esse país vive em estado de sítio desde a crise dos mísseis em 1961, sendo constatemente ameaçado pela força (em todos os sentidos) e boicotado nos fóruns internacionais por ter simplesmente ter escolhido seu próprio caminho.

Problemas existem é claro e Cuba possui muitos, porém essa pequena ilha têm um grande espaço no coração de milhões que sonham com um outro mundo possível, Cuba é sempre apaixonante pois além de possuir um povo acolhedor, representa o contraponto ao que está colocado hoje, principalmente nos últimos anos de "Globalização Perversa" onde o avanço técnologico cresceu, porém a pobreza, a exclusão e a miséria se multiplicou.

Cuba também representa de uma certa forma a resistência a competitividade destrutiva, ao individualismo banal e a lucratividade á qualquer custo do verdadeiro cassino que virou os chamado mercado financeiro global.

E é por isso mesmo que Cuba desperta tanto ódio, por justamente representar essa oposição ao concenso, de um país que apesar dos problemas, exporta milhares de médicos para prestar serviços em países de terceiro mundo, produz verdadeiros compeões mundiais (é bom lembrar que os mesmos só são assediados porque tiveram uma execpecional preparação esportiva no país como em nenhum outro do terceiro mundo), possui os melhores indicadores socias da América Latina e coloca o homem e suas imensas potencialidades como principal fonte de preocupação.


Sabemos também que essa ilha necessita de reformas econômicas visando superar suas dificuldades, porém isso só ocorrerá com sucesso, se o país buscar essas soluções sem abandonar as conquistas do socialismo (NÃO PRECISAMOS TER VERGONHA DE FALAR ISSO), buscando intercâmbio com vários países tais como a China, a Venezuela e até o Brasil, por que não? e não virando novamente uma colônia como querem os mafiosos exilados de Miami e os lacaios espalhados pelo terceiro mundo.

Com a palvara as nossas gerações de Cuba.

sábado, 26 de julho de 2008

Lembranças do Moncada em tempos de "Globalização" (parte I)

Lembranças do Moncada em tempos de “Globalização” (PARTE I)


Hoje é o dia mais importante do calendário nacional de Cuba, há exatamente 55 anos um grupo de guerrilheiros liderados por Fidel Castro tentaram, sem sucesso, assaltar o quartel de Moncada ao sul da Ilha dando inicio a um processo que culminou no primeiro de janeiro de 1959 com a derrubada do governo FANTOCHE de Fugêncio Batista.

Lembro-me como se fosse hoje do dia em que desembarquei em Havana próximo do natal de 1996, em pleno período especial daqueles difíceis anos na Ilha após a dissolução da antiga URSS, essa experiência ímpar no início foi estranha, pois desde a chegada ao aeroporto de Havana passando pelos passeios ao “Malecon” (não sei se é assim que escreve) ou mesmo por Havana Velha, a impressão era de que tudo parecia muito velho e desgastado desde os carros da década de 1950 as construções urbanas.

Confesso também o quanto foi “aventureira” a experiência de não ter itens como papel higiênico (usávamos jornal), de durmir numa cama onde se podia sentir as molas nas costas entre outros itens de “necessidade básica” .É importante esclarecer que ficamos hospedados na casa de cubanos, coisa que era permitida na época, sendo assim, posso dizer que minha experiência em Cuba foi, antes de mais nada, um aprendizado pessoal no sentido de conseguir enxergar a vida sob outros prismas que não a de um típico paulistano de classe média, ou seja, por mais que já soubesse que essa realidade é muito pior em muitos lugares do Brasil, fiquei “incomodado” com tais situações num país que sempre defendi e que sempre considerei como segunda pátria.

Essas situações nos colocam em xeque, hoje compreendo melhor o quanto fui babaca naqueles primeiros dias de viagem, a ponto de não entender a vida na sua complexidade e compreender o porque dessa situação em Cuba, além de não conseguir enxergar beleza além da vitrine de um shopping center, como muitas pessoas próximas que são míopes de realidade foram depois a Ilha e relataram coisas até “piores”.

É claro que o avanço tecnológico e material da humanidade é algo essencial para tornar a vida de todos melhor no sentido amplo da palavra, mas é necessário também perceber, que as variáveis da História e da Política é que nos levam a entender o abismo material entre poucos e muitos no mundo atual e não simplesmente um Karma espiritual ou coisa do gênero.

Conforme os dias foram passando comecei a observar e sentir algo que vai muito além de uma simples vitrine ou de uma fachada de Wall Mart da vida, algumas situações começaram a me fazer compreender Cuba na sua essência como, por exemplo, a garotinha da casa onde estávamos hospedados, que além de ser uma excelente pianista, nos brindou com uma bela “apresentação”, ou quando, por acaso encontrei uma adolescente na rua para pedir informações e ela me perguntou de onde eu era, quando soube que era do Brasil, a mesma demonstrou um enorme carinho (coisa comum em Cuba) e fez uma“breve” exposição sobre nosso país que muitos, mas muitos mesmo! aqui não saberiam esboçar, nas apresentações de balé clássico de graça aos domingos pela manhã ou até mesmo, nas conversas em ruas ou bares onde o “cubano comum” demonstrava uma enorme capacidade de compreender a realidade mundial, ficando evidente o enorme nível cultural da população.

Encerrando essa primeira parte gostaria de perguntar se essas situações descritas acima são vistas de forma extremamente corriqueira nas ruas da América Latina ou até do mundo inteiro num país de semelhantes condições materiais ou até superiores como o Brasil?

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Lembranças da amiga Lizzy e a quarta frota

A minha história começa lá pelos idos de 1996, em pleno 4 de julho, estava em Washington D.C., com uma amiga estadunidense que havia feito intercâmbio no início dos anos 1990 na USP, o fato é que lá pelas tantas começou uma discussão a respeito da guerra do Vietnã entre eu, ela e mais duas amigas dela, eu afirmando que a guerra se estendeu mais do que deveria (isso porque não quis dizer em pleno 4 de julho, que eles haviam “tomado pau” naquele país), a discussão terminou quando ela afirmou de forma categórica que eu tinha um rancor pessoal, pois havia sido humilhado no aeroporto de Atlanta quando me revistaram a ponto de me deixarem de cueca e porta dólar e que eu, ao expor esse ódio, a deixara muito magoada, sem contar que a partir daquele momento ela e as amigas falavam inglês mais rápido para que eu ficar de fora mesmo, me sentia um verdadeiro autista.

O nome dessa minha amiga é Lizzy Perry, ela é natural do estado de Winconsin e hoje está casada e mora em Michigan, pelo menos essa foi a ultima notícia que tive dela, ela foi uma grande amiga mesmo, passamos um ano maravilhoso aqui no Brasil, ela adorou tudo aqui desde a feijoada no bar do filé até os jogos do Coringão, pois se tornou fanática pelo time chegando a ir ao estádio sozinha em um raro jogo em que não pude comparecer, porém os atritos e divergências ficaram evidentes naquele 4 de julho, talvez pelo de termos visitado naquela manhã, o memorial da guerra do Vietnã onde o nome de todos os combatentes mortos estava presente num enorme mural e ela por coincidência achou o nome de um tio dela de Winconsin e ficou emocionada, sem ser insensível com o sentimento dela, eu só pensei ( mas não disse) que para cada nome no mural havia pelo menos de 15 a 2O vietnamitas mortos naquele confronto.


Naquele 4 de julho sinceramente me senti mau, pensei até antes de dormir que poderia antecipar minha volta, mas engoli a seco e no outro dia já estava “tudo bem”, o principal argumento dela é que os EUA foram defender a liberdade do Vietnã e que um país de tão pouca expressão no cenário internacional como o Brasil nem fazia idéia do que representava isso, ela tentava me convencer que o “o povo escolhido” tinha esse direito como estava está escrito desde o “Destino Manisfesto” e no roteiro de filmes como “Independence Day “, por outro lado, tentei afirmar que o contexto da Guerra do Vietnã estava contido na lógica da Guerra Fria e que jamais tinha tido rancor ou ódio em relação aos estadunidenses comuns e o que me causava raiva era a política externa dos EUA.


Esses dias lendo duas reportagens (nos jornais Lê Monde Diplomatique e Estadão) a respeito da reativação da quarta frota americana na América do Sul lembrei da minha amiga Lizzy Perry, se tivesse oportunidade, além de dar um enorme abraço nela e relembrar os tempos de arquibancada, poderia fazer algumas perguntas a ela:

1) Se os EUA defendem tanto liberdade, porque mandaram um porta aviões ao litoral brasileiro, preparado para desembarcar no porto de Santos, caso houvesse resistência ao golpe no dia 31 de março de 1964? Conforme revelou o jornalista Marcos Sá Correa em 1976.

2) Por que os EUA, através da CIA, patrocinou todos os golpes militares na América Latina durante os anos de 1960 e 1970, incluindo o golpe em cima do presidente democraticamente eleito Salvador Allende no Chile, instalando-se a mais cruel e assassina ditadura desse continente?

3) Por que os principais meios de comunicação dos EUA se pronunciaram favoravelmente ao golpe de três dias imposto ao presidente Chaves, igualmente democraticamente eleito na Venezuela?

4) Por que os EUA recentemente resolveram criar uma base militar no Paraguai? Será que é para combater as atividades do Al Quaeda na tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) como diz o pentágono? Ou será que é por causa da maior reserva de água subterrânea do mundo na região, o chamado Aqüífero Guarani?

5) Por que os EUA resolveram reativar a quarta frota militar com vistas à “proteção” da América do Sul? Já sei deve ser para combater os representantes do “eixo do mau” representado pelos “demônios” Chaves, Morales, Corrêa e Fidel Castro né amiga? Engraçado, mas tenho uma leve desconfiança que as reservas de petróleo da Venezuela ou as recém descobertas no litoral brasileiro (estimadas de 30 a 50 bilhões de barris), a grande biodiversidade da Amazônia e as grandes reservas de água podem estar relacionadas a isso.


Mas sinceramente acho que estou enganado e que tudo isso não passa de um rancor ou mesmo cisma minha pelo fato de ter sido “humilhado” em Atlanta ou pode ser como alunos “bem nutridos” que afirmavam sempre que eu sou “do contra”, realmente talvez seja isso mesmo.

terça-feira, 15 de julho de 2008


Esse novo blog que está nascendo hoje, é fruto de reflexões a respeito da importância do mesmo, no início acreditava que "essa coisa de blog" era destinado para adolescentes, substituindo assim as chamadas agendas "secretas", principalmente de garotas na faixa entre 12 e 16 anos, portando não seria algo lá muito apropriado para esse cidadão que vos escreve agora.

Porém após as eleições de 2006, confesso que de forma já tardia, começei a perceber que os chamados "blogs alternativos" representavam de forma de livre e democrática, uma alternativa, em termos de fonte de informação, ao chamado discurso único da mídia oficial.

Confesso que aprendi muito principalmente com os blogs dos jornalistas Luís Nassif, Bob Fernandes, Mino Carta, entre outros, que enfrentam o discurso pronto da "PORCA MÍDIA OFICIAL"Pretendo, nesse pequeno espaço, expor um pouco daquilo que estava restrito ao "universo" dos meus pensamentos, das minhas aulas e das conversas com amigos mais próximos.

Na verdade, prentendo sociabilizar minhas reflexões, angustias, alegrias e emoções a respeito dos assuntos que mais norteiam meus pensamentos.


Esse espaço é democrático, seja bem-vindo.


Gordo.