sexta-feira, 18 de julho de 2008

Lembranças da amiga Lizzy e a quarta frota

A minha história começa lá pelos idos de 1996, em pleno 4 de julho, estava em Washington D.C., com uma amiga estadunidense que havia feito intercâmbio no início dos anos 1990 na USP, o fato é que lá pelas tantas começou uma discussão a respeito da guerra do Vietnã entre eu, ela e mais duas amigas dela, eu afirmando que a guerra se estendeu mais do que deveria (isso porque não quis dizer em pleno 4 de julho, que eles haviam “tomado pau” naquele país), a discussão terminou quando ela afirmou de forma categórica que eu tinha um rancor pessoal, pois havia sido humilhado no aeroporto de Atlanta quando me revistaram a ponto de me deixarem de cueca e porta dólar e que eu, ao expor esse ódio, a deixara muito magoada, sem contar que a partir daquele momento ela e as amigas falavam inglês mais rápido para que eu ficar de fora mesmo, me sentia um verdadeiro autista.

O nome dessa minha amiga é Lizzy Perry, ela é natural do estado de Winconsin e hoje está casada e mora em Michigan, pelo menos essa foi a ultima notícia que tive dela, ela foi uma grande amiga mesmo, passamos um ano maravilhoso aqui no Brasil, ela adorou tudo aqui desde a feijoada no bar do filé até os jogos do Coringão, pois se tornou fanática pelo time chegando a ir ao estádio sozinha em um raro jogo em que não pude comparecer, porém os atritos e divergências ficaram evidentes naquele 4 de julho, talvez pelo de termos visitado naquela manhã, o memorial da guerra do Vietnã onde o nome de todos os combatentes mortos estava presente num enorme mural e ela por coincidência achou o nome de um tio dela de Winconsin e ficou emocionada, sem ser insensível com o sentimento dela, eu só pensei ( mas não disse) que para cada nome no mural havia pelo menos de 15 a 2O vietnamitas mortos naquele confronto.


Naquele 4 de julho sinceramente me senti mau, pensei até antes de dormir que poderia antecipar minha volta, mas engoli a seco e no outro dia já estava “tudo bem”, o principal argumento dela é que os EUA foram defender a liberdade do Vietnã e que um país de tão pouca expressão no cenário internacional como o Brasil nem fazia idéia do que representava isso, ela tentava me convencer que o “o povo escolhido” tinha esse direito como estava está escrito desde o “Destino Manisfesto” e no roteiro de filmes como “Independence Day “, por outro lado, tentei afirmar que o contexto da Guerra do Vietnã estava contido na lógica da Guerra Fria e que jamais tinha tido rancor ou ódio em relação aos estadunidenses comuns e o que me causava raiva era a política externa dos EUA.


Esses dias lendo duas reportagens (nos jornais Lê Monde Diplomatique e Estadão) a respeito da reativação da quarta frota americana na América do Sul lembrei da minha amiga Lizzy Perry, se tivesse oportunidade, além de dar um enorme abraço nela e relembrar os tempos de arquibancada, poderia fazer algumas perguntas a ela:

1) Se os EUA defendem tanto liberdade, porque mandaram um porta aviões ao litoral brasileiro, preparado para desembarcar no porto de Santos, caso houvesse resistência ao golpe no dia 31 de março de 1964? Conforme revelou o jornalista Marcos Sá Correa em 1976.

2) Por que os EUA, através da CIA, patrocinou todos os golpes militares na América Latina durante os anos de 1960 e 1970, incluindo o golpe em cima do presidente democraticamente eleito Salvador Allende no Chile, instalando-se a mais cruel e assassina ditadura desse continente?

3) Por que os principais meios de comunicação dos EUA se pronunciaram favoravelmente ao golpe de três dias imposto ao presidente Chaves, igualmente democraticamente eleito na Venezuela?

4) Por que os EUA recentemente resolveram criar uma base militar no Paraguai? Será que é para combater as atividades do Al Quaeda na tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina) como diz o pentágono? Ou será que é por causa da maior reserva de água subterrânea do mundo na região, o chamado Aqüífero Guarani?

5) Por que os EUA resolveram reativar a quarta frota militar com vistas à “proteção” da América do Sul? Já sei deve ser para combater os representantes do “eixo do mau” representado pelos “demônios” Chaves, Morales, Corrêa e Fidel Castro né amiga? Engraçado, mas tenho uma leve desconfiança que as reservas de petróleo da Venezuela ou as recém descobertas no litoral brasileiro (estimadas de 30 a 50 bilhões de barris), a grande biodiversidade da Amazônia e as grandes reservas de água podem estar relacionadas a isso.


Mas sinceramente acho que estou enganado e que tudo isso não passa de um rancor ou mesmo cisma minha pelo fato de ter sido “humilhado” em Atlanta ou pode ser como alunos “bem nutridos” que afirmavam sempre que eu sou “do contra”, realmente talvez seja isso mesmo.

3 comentários:

Unknown disse...

Caralho, Gordo!
Essa història me trouxe boas lembranças dos tempos que vc era meu professor, das històrias que vc nos contava(inclusive essa) e enfim, atè dos tempos que curtiamos juntos os jogos do Coringao.
Genial esse texto!
Saudades!
Hasta, siempre maestro!
besos
Ligia

Mônikita disse...

Nossa a Lizzy!!!!

Ela era uma menina bacana, mas confesso que fiquei um pouco decepcionada com ela...qdo vc viajou pra lá.
Uma pq a maniera como ela sempre foi tratada aqui, por vc, pelo RC, em casa.
Mas é aquela coisa de sempre criarmos expectavias maiores em cima das pessoas.
A Lizzy de alguma maneira é contra o sistema rs, porém tb tem esse lado estadudinense forte nela.
É muito dificil vc se livrar de certas amarras com que foi criada.
Éu lamento pelo tio dela porém quem matou ele foi o proprio Tio Sam...alias o msm que manda centena de jovens estatudinense enganados pra guerras idiotas.
Acho que melhor será sempre lembrar da Lizzy nas arquibancadas do Coringão (lembra o poster no quarto dela do time do CORINTHIANS nos Estados Unidos? rs), tomando guaraná, torcendo que nem louca para o Brasil nas Copas do Mundo...
Qto a essas perguntas acho que ela diria que vc mais uma vez está enganado e que o "povo" escolhido tem deveres.
Porém acho que o abraço que vcs trocariam, apesar dessas diferenças, seria marcado pelo carinho, a amizade e o grande afeto que vcs cultivaram nos anos que tiveram a oportunidade de conviverem.
Lembranças de uma vida bem vivida, meu irmão.

;)

Esse lance do aeroporto lamentável...mas isso é normal lá infelizmente.

Anônimo disse...

Aeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
Gordo :D
seja bem vindo por aki tbm
é nós com o povo de fé...
Boa semana
Bjinhus...