sábado, 26 de julho de 2008

Lembranças do Moncada em tempos de "Globalização" (parte I)

Lembranças do Moncada em tempos de “Globalização” (PARTE I)


Hoje é o dia mais importante do calendário nacional de Cuba, há exatamente 55 anos um grupo de guerrilheiros liderados por Fidel Castro tentaram, sem sucesso, assaltar o quartel de Moncada ao sul da Ilha dando inicio a um processo que culminou no primeiro de janeiro de 1959 com a derrubada do governo FANTOCHE de Fugêncio Batista.

Lembro-me como se fosse hoje do dia em que desembarquei em Havana próximo do natal de 1996, em pleno período especial daqueles difíceis anos na Ilha após a dissolução da antiga URSS, essa experiência ímpar no início foi estranha, pois desde a chegada ao aeroporto de Havana passando pelos passeios ao “Malecon” (não sei se é assim que escreve) ou mesmo por Havana Velha, a impressão era de que tudo parecia muito velho e desgastado desde os carros da década de 1950 as construções urbanas.

Confesso também o quanto foi “aventureira” a experiência de não ter itens como papel higiênico (usávamos jornal), de durmir numa cama onde se podia sentir as molas nas costas entre outros itens de “necessidade básica” .É importante esclarecer que ficamos hospedados na casa de cubanos, coisa que era permitida na época, sendo assim, posso dizer que minha experiência em Cuba foi, antes de mais nada, um aprendizado pessoal no sentido de conseguir enxergar a vida sob outros prismas que não a de um típico paulistano de classe média, ou seja, por mais que já soubesse que essa realidade é muito pior em muitos lugares do Brasil, fiquei “incomodado” com tais situações num país que sempre defendi e que sempre considerei como segunda pátria.

Essas situações nos colocam em xeque, hoje compreendo melhor o quanto fui babaca naqueles primeiros dias de viagem, a ponto de não entender a vida na sua complexidade e compreender o porque dessa situação em Cuba, além de não conseguir enxergar beleza além da vitrine de um shopping center, como muitas pessoas próximas que são míopes de realidade foram depois a Ilha e relataram coisas até “piores”.

É claro que o avanço tecnológico e material da humanidade é algo essencial para tornar a vida de todos melhor no sentido amplo da palavra, mas é necessário também perceber, que as variáveis da História e da Política é que nos levam a entender o abismo material entre poucos e muitos no mundo atual e não simplesmente um Karma espiritual ou coisa do gênero.

Conforme os dias foram passando comecei a observar e sentir algo que vai muito além de uma simples vitrine ou de uma fachada de Wall Mart da vida, algumas situações começaram a me fazer compreender Cuba na sua essência como, por exemplo, a garotinha da casa onde estávamos hospedados, que além de ser uma excelente pianista, nos brindou com uma bela “apresentação”, ou quando, por acaso encontrei uma adolescente na rua para pedir informações e ela me perguntou de onde eu era, quando soube que era do Brasil, a mesma demonstrou um enorme carinho (coisa comum em Cuba) e fez uma“breve” exposição sobre nosso país que muitos, mas muitos mesmo! aqui não saberiam esboçar, nas apresentações de balé clássico de graça aos domingos pela manhã ou até mesmo, nas conversas em ruas ou bares onde o “cubano comum” demonstrava uma enorme capacidade de compreender a realidade mundial, ficando evidente o enorme nível cultural da população.

Encerrando essa primeira parte gostaria de perguntar se essas situações descritas acima são vistas de forma extremamente corriqueira nas ruas da América Latina ou até do mundo inteiro num país de semelhantes condições materiais ou até superiores como o Brasil?

Um comentário:

Mônikita disse...

Acho que essas situações nãos são corriqueiras em outros paises de msm condição.
A vida passa e a percepção que queremos ter dela é sempre um escolha constante.
É dificil entender o que não é bonito, confortável...politicamente correto.
Mas tb fica a pergunta o que é o bonito?
O confortável?
O politicamente correto?
Claro que todos precisamos de coisas materias pra viver e viver bem...isso é hipocresia negar.
Mas mais precisamos e ver o que é a beleza, a humanidade, a generosidade , a simplecidade que muitas vezes ficam abafadas por futilidades sociais.
Lembra daquele samba da Mangueira de 88 que dizia:
"HOJE DENTRO DA REALIDADE
ONDE ESTÁ A LIBERDADE
ONDE ESTÁ QUE NINGUÉM VIU?
...
PRESO NA MISÉRIA DA FAVELA"
Portanto onde está a verdadeira liberdade?
Nas favelas a margem da sociedade...ou na vida simples, porém digna do povo cubano?