domingo, 31 de maio de 2009

Financeirização e precarização: os males do Brasil são

Os dois efeitos mais graves das políticas neoliberais são a financeirização da economia e a precarização das relações de trabalho. Ambas são resultados da mesma política de desregulamentação, de eliminação das travas à livre circulação do capital – elemento chave das políticas neoliberais, resultado do diagnóstico segundo o qual o que havia levado a economia mundial ao estancamento seria a excessiva quantidade de limitações e regulamentações para que o capital reativasse a economia. Quanto à força de trabalho, a diminuição do seu custo de contratação levaria ao aumento do nível de emprego.O que se viu foi algo totalmente diferente. Liberado de regulamentações, o capital se transferiu maciçamente do setor produtivo ao financeiro, passando a concentrar-se na especulação. Mais de 90% das trocas econômicas no mundo não se referem a bens e serviços, mas a compra e venda de papéis, que não geram nem riqueza, nem emprego. São movimentos parasitas, que concentram renda e sugam ganhos da riqueza da esfera produtiva. A desregulamentação promoveu a hegemonia do capital financeiro, típica da era neoliberal. Um capital financeiro já não mais dedicado a financiar a produção, o consumo, a pesquisa, mas dedicado à compra e venda de papeis nas Bolsas de Valores e dos papéis dos Estados endividados.A financeirização significa que os Estados se deixaram capturar pela lógica financeira, seu primeiro compromisso – frequentemente o único sagrado – é o pagamento dos juros da dívida, para o que se reserva o superávit fiscal. Grandes empresas passam a dedicar-se, ao lado das suas atividades originarias, à especulação financeira. Quem está endividado, devido ao estratosférico nível dos juros, não consegue se livrar das dívidas. Outros não se aventuram a abrir uma pequena ou media empresa, a comprar algo, com medo do endividamento. Assim o capital financeiro se tornou a espinha dorsal das nossas economias. Tudo o resto é setorial – fechamento de empresas, de leitos de hospital, perdas de empregos. Só o que toca ao capital financeiro é “sistêmico”, como dizem os economistas neoliberais.Ao mesmo tempo, o que se propagou como “flexibilização” do mercado de trabalho, na realidade se deu como “precarização”, isto é, como expropriação dos direitos dos trabalhadores, fazendo com que a maioria deles não tenha mais contrato com carteira de trabalho. Não tem segurança de continuidade do emprego, não podem associar-se, não podem apelar à justiça, não tem uma identidade profissional e social. Não são cidadãos, no sentido de que um cidadão é sujeito de direitos e eles não têm direitos na atividade fundamental de suas vidas.Lutar contra o neoliberalismo e passar a construir um modelo alternativo, posneoliberal, tem centralmente a ver com esses dois fenômenos, estruturais no neoliberalismo: a hegemonia do capital financeiro e a fragmentação e submissão dos trabalhadores à superexploração e à impotência organizativa. É trabalhar contra o capital especulativo e a favor da grande maioria da população – que vive do trabalho – e, através dele, cria as riquezas do país.Quebrar a hegemonia do capital financeiro significa terminar com a sua autonomia, de fato, no Brasil e suas estratosféricas taxas de juros, que remuneram, atraem e incentivam o capital financeiro a especulação. Submeter a política financeira à política geral do governo e à política econômica em particular, que teve o mérito de reintroduzir o desenvolvimento – e associá-lo estreitamente – a políticas sociais, e que para tanto não pode ter uma política do Banco Central, favorecendo ao capital especulativo, autônoma.Por outro lado, favorecer o mundo do trabalho significa seguir fortalecendo o mercado interno de consumo popular, mediante políticas redistributivas de renda, mas especialmente não conceder nenhuma isenção, crédito ou qualquer forma de favorecimento do capital privado, sem ter obrigatoriamente contrapartidas ao nível do emprego – um dos índices fundamentais de um governo com alma social.



Essa postagem é um texto do professor Emir Sader (blog) não tenho tido tempo de escrever textos próprios devido aos compromissos profissionais

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Quem está doente: Adriano ou os outros?

Que sociedade é esta que, quando alguém diz que não estava feliz no meio de tanto treino, tanta pressão, tanta grana, tanta viagem, que prefere voltar à favela onde nasceu e cresceu, compra cerveja e hambúrguer para todo mundo, fica empinando pipa – se considera que está psiquicamente doente e tem que procurar um psiquiatra? Estará doente ele ou os deslumbrados no meio da grana, das mulheres, das drogas, da publicidade, da imprensa, da venda da imagem? Quem precisa mais de apoio psiquiátrico: o Adriano ou o Ronaldinho Gaucho?O normal é ter, consumir, se apropriar de bens, vender sua imagem como mercadoria, se deslumbrar com a riqueza, a fama, odiar e hostilizar suas origens, se desvincular do Brasil. Esses parecem “normais”. Anormal é alguém renunciar a um contrato milionário com um tipo italiano, primeiro colocado no campeonato de lá.Normal é ser membro de alguma igreja esquisita, cujo casal de pastores principais foram presos por desvio de fundos. Normal é casar virgem, ser careta, evangélico, bem comportado, responder a todas as solicitações e assinar todos os contratos. Normal é receber uma proposta milionária de um clube inglês dirigida por um sheik, ficar pensando um bom tempo, depois resolver não aceitar e ser elogiado por ter preferido seu clube, quando antes ele ficou avaliando, com a calculadora na mão, se valia a pena trocar um contrato milionário por outro.Considera-se desequilibrado mental quem recusa um contrato milionário, para viver com bermuda, camiseta e sandália havaiana. Falou à imprensa de todo o mundo, disposta a confissões espetaculares sobre o que havia feito nos três dias em que esteve supostamente desaparecido – quando a imprensa não sabe onde está alguém, está “desaparecido”, chegou-se até a dizer que Adriano teria morrido -, buscando pressioná-lo para que confessasse que era alcoólatra e/ou dependente de drogas, encontrar mulheres espetaculares na jogada.Falou como ser humano, que singelamente tem a coragem de renunciar às milionárias cifras, eventualmente até pagar multar pela sua ruptura, dizer que “vai dar um tempo”, que não era feliz no que estava fazendo, que reencontrou essa felicidade na favela da sua infância, no meio dos seus amigos e da sua família.Este comportamento deveria ser considerado humano, normal, equilibrado. Mas numa sociedade em que “não se rasga dinheiro”, em que a fama e a grana são os objetivos máximos a ser alcançados, quem está doente: Adriano ou essa sociedade? Quem ter que ser curada? Quem é normal, quem está feliz?


Postado por Emir Sader às 11:46

sábado, 25 de abril de 2009

O Enigma LULA: Decifra-me ou te devoro

O último livro do historiador Emir Sader traz esse intrigante título num dos capítulos referindo-se ao governo Lula que já começa a entrar no seu crepúsculo com a passagem da metade do segundo mandato.

A idéia de enigma parte do questionamento a respeito das ações desses quase sete anos de mandato de governo, críticas partem da chamada esquerda “radical” como o PSOL e o PSTU que chega as raias da insanidade ao eleger Lula como principal inimigo, além de aliar-se ao conservadorismo em votações no congresso, críticas também partem da direita que através da mídia faz de tudo para “sangrar” Lula, o fato é que ambos não conseguem decifrar o enigma do presidente que possui altíssimos índices de aprovação

Será esse governo uma mera continuidade do governo FHC? Com uma política econômica ortodoxa com juros elevados, altíssimos lucros para os bancos, independência do Banco central tendo a frente Henrique Meireles. Ou será um governo realmente de esquerda?
Com políticas de transferência como o bolsa família, o aumento real do salário mínimo, o aumento do nível de emprego, mesmo que os mesmos sejam precários, além de uma política externa “terceiro-mundista” com a diversificação das parceiras comerciais com países como China, Índia, países do oriente médio, além da tentativa de maior integração política com a América do Sul.


Na realidade o governo Lula não deixa de ter essas e outras contradições, o mesmo representa um acúmulo de forças que se formou desde a resistência do período militar tendo em seu leque a esquerda da igreja católica, os trabalhadores organizados e parte da intelectualidade. Porém no nosso entender, apesar de ter em seu seio setores representativos, o PT não foi efetivamente capaz já em 1989 de estar á altura do desafio de derrotar Collor e o que é pior enfrentar concretamente o consenso neoliberal que estava por vir nos anos de 1990.

O PT sempre teve como programa de governo uma mistura de “ética política” com justiça social como se apenas isso bastasse para enfrentar os grandes desafios que o fim do modelo que norteou nosso crescimento de 1930 a 1980 nos colocou, além é claro da imposição política de Washington, da desregulamentação financeira, das privatizações e da abertura de mercado desenfreada que provocou desemprego e quebra de grande parte da indústria nacional nos anos de 1990.

Faltou embasamento teórico e maturidade política que infelizmente nem Palocci nem Genoíno e muito menos Mercadantes da vida nunca tiveram, a persistência de Henrique Meireles na frente do banco central representa essa falta de maturidade, pois o mesmo é a imposição do capital financeiro dentro do governo, porém Lula quando age por sua própria capacidade de análise (sem medo) acerta barrando o processo de esvaziamento do estado (no que ele tem de pior) e impondo, mesmo que de forma tímida, uma agenda um pouco mais desenvolvimentista nesse segundo mandato através do PAC.

Apesar das contradições, Lula, na nossa visão, representou avanços e não faz menor sentido jogarmos água nos moinhos daqueles que querem ver o povo e Lula pelas costas, por isso, cabe a esquerda decifrar não só o enigma Lula, mas também decifrar os desafios que essa nova crise nos impõe, senão seremos devorados novamente pelos Henriques Meirelles da vida.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Impressões sobre a Venezuela

Estive no nosso vizinho ao norte entre os dias 29/12/2008 a 07/01/2009, muita gente me perguntou antes da viagem qual seria o sentido da mesma, já que outros destinos seriam mais atraentes para um turista brasileiro, porém antes de sermos turistas, eu e meu amigo Fábio somos geógrafos, portanto desde Humboldt (guardadas as devidas proporções) no século XIX em suas famosas viagens pela América do Sul, temos a curiosidade de conhecer outras realidades, de sentirmos o “cheiro dos lugares”, de conversar com as pessoas, ou seja, os geógrafos precisam de viagens assim como o peixe necessita de água.

O destino Venezuela foi decido sob a influencia de várias fatores que vão desde a vontade de conhecer mais um país latino americano ao fato de aproveitarmos as milhagens acumuladas da TAM, porém a principal motivação foi desejo de conhecer um pouco mais desse rincão do terceiro mundo que vêm ganhando destaque internacional desde o início dos anos 2000 devido a chegada ao poder do militar Hugo Chavez Frias com sua retórica forte e muitas vezes explosiva e a sua controvertida “revolução bolivariana”, portanto por uma mistura de curiosidade “geográfica” com simpatia ao “comandante” embarcamos rumo á Caracas.

Chegamos ao nosso destino numa manha de segunda feira e logo que embarcamos num táxi já percebemos pelo trajeto ao hotel, o que já imaginávamos, uma cidade de grande beleza, porém uma típica capital do terceiro mundo capitalista cheia de contrastes e com grande “déficit social” que poderia ser observado através do grande número de favelas presentes nos “morros”, ( algo bem parecido com o Rio de Janeiro), assim como, carros de ultima geração tipo “Cherokee, BMW, Mercedez, etc” trafegando pelas ruas num transito tão caótico que deixaria qualquer paulistano com saudades de sua terra natal.

Nos dias que se sucederam, é obvio que conversamos com as mais diferentes pessoas dos mais diferentes níveis desde camelos a famílias da classe média, passando pelas universidades de Mérida e Caracas a respeito do governo bolivariano, sendo muito evidente a polarização radical da sociedade entre aqueles que “amam” e aqueles que “odeiam”, havendo um “empate técnico” em nossas “entrevistas”.

Parece bastante evidente o fato de que não podemos tirar conclusões definitivas apenas com conversas, porém é bastante eloqüente que o “cheiro” e as “vozes” das “calles” representem um termômetro razoável do “estado geral das coisas”, por isso fazendo uma retrospectiva do que ouvimos cheguei a algumas conclusões parciais a respeito do processo vivido no nosso querido vizinho.

Em primeiro lugar me parece claro que a política externa do presidente Chavez possui “exageros” verbais, que podem afugentar alguns investimentos externos, porém o peso desse aspecto me parece ser levemente relativo, haja visto que o país que mais recebe os chamados IED”S no planeta está sob a batuta do partido comunista (China)

Porém, ainda na política externa, me parece bastante interessante o papel da Venezuela na OPEP, conseguindo fortalecer a organização que estava bastante debilitada até os anos de 1990, por interferência dos Estados Unidos, é bom lembrar que a mesma, apesar de ser um cartel, é uma das poucas organizações econômicas com predominância maciça de países do terceiro mundo.

Outro aspecto interessante observado é a tentativa de fortalecimento da unidade sul-americana, através de políticas comuns fortalecendo nosso sub-continente na esfera internacional, do ponto de vista econômico, a construção de infra-estruturas na escala continental seria muito interessante especialmente para o Brasil podendo representar um ciclo de grandes investimentos nessa época de crise mundial.

Em relação às questões internas o que podemos observar de positivo é o apoio maciço da população mais carente ao governo Chavez, em nossas “entrevistas” constatamos que muito provavelmente houve avanços nos setores essenciais como saúde e educação, a formação de cooperativas e o apoio ao chamado “circuito inferior” da economia presente nas grandes feiras de comércio popular das ruas de Caracas, chegamos até ouvir de um jovem na universidade de Caracas que “não tem emprego na Venezuela hoje quem não quer”.

Apesar que, e é importante isso ser ressaltado, o preço do petróleo já não é o mesmo que no início dos anos 2000, podendo ter interferência direta nesse processo, a ver.

Todavia, apesar das opiniões desencontradas, um fato é inquestionável, ninguém se perpetua no poder, através de consulta popular e eleições diretas (apesar da mídia afirmar o contrario), durante dez anos se não oferecer avanços à população mais carente, que na Venezuela, assim como no Brasil formam a maioria da população; Há tempo: Chavez possui 60% de apoio no referendo a ser realizado em fevereiro.

Em relação às críticas, as de cunho preconceituoso deixamos de lado, porém algumas foram extremamente pertinentes, tais como, a formação de uma casta presa ao aparelho do Estado, que nos parece pelas conversas ser de origem militar, que “goza” de privilégios e enriqueceu nos últimos anos, da extrema personificação do processo de mudança do país na figura do presidente Chavez, o que nos parece prejudicial demais, sendo que já vimos esse filme antes e por último (polêmicas à parte) a aproximação de um modelo “cubano” que no nosso ponto de vista não é o mais eficaz em relação, por exemplo, ao modelo “chinês” se é que podemos dizer assim, sendo que a Venezuela necessita construir infra-estruturas e gerar riquezas para não depender eternamente da exportação de petróleo, até porque ele não é eterno.

Como geógrafo latino americano torço por ti Venezuela.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A origens da cidade de São Paulo

Esse texto é uma homenagem ao historiador Caio Prado Júnior que escreveu um belíssimo estudo histórico e geográfico sobre a cidade de São Paulo em 1933.

São Paulo (CAPITAL) no início da sua colonização era uma região extremamente pobre do ponto de vista natural, principalmente no que está relacionado à qualidade de seu solo, porém hoje é o principal centro do capitalismo nacional com um amplo mosaico de culturas regionais e internacionais convivendo num curto espaço.

Por isso cabe a pergunta do porquê uma região de geografia física inóspita conseguiu tornar-se o principal pólo econômico da América Latina?

Caio Prado nos oferece excelentes pistas sobre a posição estratégica em termos geográficos da cidade de São Paulo.

A chamada Serra do Mar estende-se da Bahia ao sul do país numa faixa paralela ao oceano Atlântico dividindo a porção leste e meridional do nosso território em planícies litorâneas e áreas planálticas em direção ao interior do continente.

Na altura da latitude 24 na direção de São Vicente surge o primeiro centro de planalto da colônia num lugar onde ocorre um “estreitamento” da faixa litorânea sendo que a largura da planície praiana não ultrapassa 15 quilômetros, o que motivou os jesuítas ultrapassarem a “barreira” da serra do mar e instalarem-se no planalto onde o clima “temperado” era mais “agradável” aos moldes europeus e onde não existiam as condições insalubres do litoral “tropical”.

A pressão colonizadora em direção ao interior do país escolheu São Paulo como ponto de partida, pois era justamente esse local que oferecia maior facilidade de acesso pela serra do mar, ao contrario de outras áreas como próximas ao litoral norte de São Paulo onde a serra citada continha descidas abruptas e perigosas.

Assim sendo comparando-se as demais passagens da serra esse era o ponto ideal com apenas um abrupto a vencer e tendo depois um terreno plano de percurso fácil, não é por acaso que os próprios índios já haviam escolhido esse trajeto de penetração mesmo antes da colonização portuguesa.

A formação e desenvolvimento da atual cidade surgem na clareira natural da floresta que revestia o território paulista, ou seja, os Campos de Piratininga.

Além da clareira como obvio fator de facilidade de instalação humana, os Campos de Piratininga possuíam uma posição estratégica muito favorável em relação à ameaça de ataques externos, pois ocupa o alto de uma colina onde está exatamente hoje o chamado pátio do colégio sendo um divisor de águas entre o Tamanduateí e o Anhangabaú podendo-se observar dali qualquer movimentação mesmo que longínqua de um possível inimigo.

Por último há que se ressaltar São Paulo com seu relevo e sistema hidrográfico favorável tendo “corredores naturais” que impulsionaram e tornaram mais fácil o caminho da onda colonizadora em direção ao interior.

Em direção a leste o Vale do Paraíba, em direção ao nordeste o sul de Minas, em direção ao norte Jundiaí, Campinas e Ribeirão Preto, em direção a noroeste pelo rio Tiete, Piracicaba e Araraquara em direção a oeste, Sorocaba.

Portanto Caio Prado Junior, apesar de historiador faz uma excelente análise de como o espaço e a posição estratégica fizeram com que São Paulo se transformasse no principal “elo” de ligação entre o comércio externo via litoral e a colonização do interior do nosso país.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Consumismo infantil

Chegando próxima a data do Natal, aonde milhares de pais e mães irão freneticamente às compras para satisfazer os desejos “encomendados” pelos seus filhos podemos refletir a respeito de uma questão extremamente delicada e complexa que é a do marketing direcionado ao público infantil.

A publicidade possui dois objetivos básicos:

a) Informar que tal produto ou serviço existe com tais qualidades;
b) Convencer o virtual consumidor a adquiri-lo.


Na minha percepção a grande maioria das propagandas estão focadas no segundo objetivo, valendo-se de todo tipo de artifício subjetivo e idílico com a promessa fantástica de felicidade, longevidade, sexualidade, potencialidade, etc embutido por exemplo numa propaganda de carro sem nada falar muitas vezes das próprias qualidades do veículo.

Cabe nos perguntar se nós adultos mesmo tendo recursos intelectuais afetivos e psíquicos não conseguimos “resistir” a sedução das peças publicitárias imagine as crianças que são bombardeadas por uma publicidade específica e extremamente eficaz.

Podemos dizer que existe um verdadeiro “bombardeio simbólico” que adentra as defesas psíquicas das crianças para convencê-las a comprar compulsivamente, porém cabe perguntar se as mesmas possuem condições para estabelecer dentro de suas cabecinhas a relação exata entre consumo e trabalho? Ou mesmo estabelecer parâmetros entre necessidade, desejo e supérfluo?

Lembro-me até hoje quando ganhei um boneco “Falcom” e recordo-me tão bem da minha imensa decepção quando percebi que o mesmo não voava como na televisão, meus pais, que na época deviam ter pago uma boa quantia, devem ter ficado decepcionados pois depois de 10 minutos lá estava eu brincando novamente com meu futebol de botão

Há no Brasil uma proposta de parâmetros curriculares nacionais que propõe estabelecer desde o ensino fundamental o tema “Trabalho e consumo”, para mim um bom começo, pois nossos jovens estão definitivamente contaminados pela “fábula” do sucesso e da aceitação através de alguns objetos de consumo, todos sabem também que entre outros motivos a delinqüência juvenil está relacionada ao abismo existente entre desejo de consumo e a real possibilidade de adquiri-los para sermos “felizes de verdade”.

Por isso acredito fielmente, baseado na minha experiência de 10 anos de magistério, lidando com adolescentes e jovens, que esse problema deve ser encarado, pois percebo uma degradação (não digo em todos) de seus valores morais e intelectuais, pois tudo para muitos não passa de um simples consumir rápido e não um processo; Isso ficou bem claro pra mim na minha experiência como professor de curso pré-vestibular onde por mais que o assunto fosse interessante e importante sempre vinha àquela pergunta que doía na alma, mas professor isso vai cair no vestibular?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Hoje faz um ano, apenas para corintiano(a)s.

Exatamente há 365 dias nós (corintianos) vivemos o dia mais amargo da nossa História, lembro que como se fosse há cinco minutos atrás eu sentado no sofá de casa gélido, parado, triste, amargurado e terrivelmente frustrado e revoltado com o que via diante dos meus olhos, sim o Corinthians pela primeira vez em seus 98 anos de História estava rebaixado para a segunda divisão, isso sem contar o barulho que nossos adversários fizeram pelas ruas, parecia até final de copa de mundo, todos os corintianos como eu passaram por essa terrível experiência e devem ter bem vivo esse momento na memória.

Acredito que certos fatos não podem ser esquecidos, pois primeiro nos servem de exemplo e por outro lado nos dão força para que aprendamos as lições e possamos dar saltos maiores em direção a um futuro mais promissor.

O fato ocorrido há um ano foi na verdade a crônica de uma tragédia anunciada, pois era do conhecimento até das pedras do reino mineral que a administração corrupta de Alberto Dualib somada há uma parceria mafiosa (no sentido literal do termo), iriam desembocar inevitavelmente em “papagaios” (vide Nilmar e Passarela), dívidas e na inevitável queda para série B.

Passado um ano, não quero me atentar a recuperação do clube e no apoio da fiel torcida que deu mais uma vez prova do seu amor incondicional, isso na verdade era mais do que previsível, pois conheço essa simbiose (clube-torcida) há 30 anos, modéstia à parte, apesar disso, reconheço, senti uma grande emoção no dia do jogo do Ceará quando os jogadores correram em direção da fiel, senti naquele momento que nossa dignidade estava resgatada e que o Corinthians mais uma vez ressurgiu das cinzas.

Entretanto acredito que isso é muito pouco para o clube que tem uma das maiores torcidas do planeta, precisamos usar o dia 02 de Dezembro para projetar nosso futuro, pois convenhamos, nosso passado nunca esteve a altura da grandeza da nossa fidelidade, analisando a História do SCCP temos apenas dois períodos gloriosos, o primeiro de 1910 a 1954 onde éramos o maior “papa títulos” da época e no curto período de 1998 a 2000.

Exceto os dois momentos citados, nos contentamos em ser o “time de raça” que, aliás, sempre foi usado politicamente por aqueles que usurparam o poder no Corinthians durante décadas, na minha modesta opinião somos o time da garra sim, porém NUNCA estivemos a altura do que merecemos.

Por isso é necessário projetar o Corinthians além de rivalidades regionais, sem perder é claro sua identidade, e que possamos ser aquilo que realmente merecemos ser, um time de projeção nacional e mundial.